Brasil, 25 de setembro de 2025
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A aproximação da esquerda com evangélicos no Brasil

A deputada Benedita da Silva e líderes evangélicos buscam diálogos sobre inclusão e políticas sociais no governo Lula.

Na manhã do dia 4 de julho, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), acompanhada da primeira-dama Janja e da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, participou de um encontro em uma igreja batista em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. O evento, que reuniu cerca de 100 mulheres, foi promovido pela Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito e teve como objetivo facilitar uma “escuta ativa” sobre as políticas do governo Lula em relação à comunidade evangélica. Este tipo de evento reflete uma estratégia de aproximação da esquerda com líderes evangélicos, especialmente em um contexto onde a direita tem ganhado força nas periferias das grandes cidades brasileiras.

O compromisso da esquerda com o diálogo

Benedita, uma parlamentar evangélica, enfatizou a importância de ter liberdade para professar sua fé em espaços públicos. Durante o encontro, registros nas redes sociais mostraram Benedita participando ativamente do culto, cantando e rezando junto com os fiéis. As diretrizes do governo têm sido claras: é preciso estabelecer um diálogo mais eficaz com a comunidade evangélica, um nicho que, segundo especialistas, é fundamental para assegurar a base de apoio popular.

Esta abordagem foi evidenciada na participação de Janja e Lula em um podcast chamado “Papo de Crente”, onde a primeira-dama arriscou um louvor, reforçando a conexão do governo com a base evangélica. Além disso, Janja esteve presente em um culto na The Abyssinian Baptist Church, em Nova Iorque, antes da Assembleia Geral da ONU, demonstrando a relevância dessa aproximação internacional.

A estratégia de alianças com líderes locais

Fontes próximas ao governo indicam que, para que a aproximação com a comunidade evangélica seja efetiva, é necessário evitar figuras midiáticas e líderes de grandes igrejas que apoiam abertamente a oposição. A ideia é buscar líderes locais, mais conectados à população, que não se sintam confortáveis utilizandos cultos para fins eleitorais. Como apontou Alexandre Brasil, professor da UFRJ, o universo evangélico é vasto e diversificado, e existem pastores que não se alinham ao bolsonarismo.

A esquerda tem se esforçado para mostrar que o segmento evangélico é plural, abrigando desde pastores de igrejas progressistas até coletivos que utilizam uma comunicação jovem e inclusiva nas redes sociais. No entanto, pesquisas recentes do Datafolha apontam que 64% dos evangélicos reprovam o governo Lula, evidenciando um espaço considerável para a construção de novas narrativas e alianças.

Resistência à elite religiosa

Os pastores que se manifestam contrários a Jair Bolsonaro frequentemente enfrentam resistência em suas congregações. Flávio Conrado, pesquisador da Casa Galileia, comentou que pastores que expressaram seu descontentamento em relação a retóricas armamentistas e conservadoras foram rotulados como “de esquerda” ou “comunistas”, resultando em um distanciamento por parte de alguns fiéis. A resistência à transformação das igrejas em palcos de disputas políticas é uma preocupação expressa por líderes religiosos como Ricardo Gondim da Igreja Betesda em São Paulo. Gondim reconhece esforços do governo Lula, mas critica o foco que muitas vezes recai sobre grandes líderes neopentecostais, negligenciando pastores que respeitam a independência religiosa.

Oportunidade digital e engajamento

Além das interações presenciais, o embate entre narrativas políticas se estende para o ambiente digital. Iniciativas como o coletivo “Novas Narrativas Evangélicas”, que se destaca nas redes sociais, procura reforçar mensagens de inclusão em um tom leve e acessível. Frases como “Deus ama todes” aparecem em memes e publicações, exemplificando a tentativa de expansão do discurso evangélico para temas como preservação ambiental e justiça social.

Dilemas da fé politizada

O debate sobre a politização da fé é um ponto crítico entre os evangélicos. O deputado federal Henrique Vieira (PSOL-RJ) afirma que deseja uma igreja que respeite a liberdade de consciência, ao passo que reconhece a influência das grandes igrejas na propagação de um pensamento conservador. Para Vieira, é necessário evitar a instrumentalização da religião para fins políticos, defendendo uma abordagem mais honesta e inclusiva.

No entanto, os desafios são significativos, especialmente com a polarização que divide a opinião pública. O passado recente, marcado por intensos debates e desinformação, representa um obstáculo à construção de pontes entre a esquerda e a comunidade evangélica. Apesar das dificuldades, muitos líderes expressam seu desejo de dialogar e repensar as narrativas que têm prevalecido no cenário político atual.

O caminho a seguir pode não ser simples, mas as iniciativas que buscam aproximação e diálogo com a comunidade evangélica representam uma oportunidade valiosa para a esquerda, especialmente em tempos de polarização e divisão.

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