O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, reiterou nesta terça-feira (23) que os formuladores de política monetária enfrentam uma “situação desafiadora” ao tentar equilibrar os riscos de inflação elevada com sinais de enfraquecimento no mercado de trabalho. Sua fala fez o dólar e os títulos da dívida americana, os treasuries, subirem pela primeira vez em cinco sessões.
Powell mantém postura cautelosa
Durante discurso em Rhode Island, Powell alertou que não há um “caminho livre de risco” para a economia enquanto as autoridades tentam conter uma inflação persistentemente acima da meta. Segundo ele, os riscos permanecem elevados, o que faz com que a política monetária continue equilibrada e cautelosa. “Ainda há muito trabalho a ser feito para garantir a estabilidade de preços e o pleno emprego”, afirmou.
Após suas declarações, os títulos do Tesouro dos EUA tiveram queda nos rendimentos, com a taxa do título de 10 anos recuando para 4,11%. Essa mudança reflete a expectativa dos investidores de que o Fed deve manter a postura mais restritiva por mais tempo.
Divergências internas no Fed aumentam incertezas
Dentro do próprio banco central americano, há sinais de divergências. Michelle Bowman, diretora do Fed, defendeu ações mais agressivas na redução dos juros para fortalecer o mercado de trabalho. Já Austan Goolsbee, presidente do Fed de Chicago, ressaltou que a inflação ainda está acima do limite desejado, recomendando cautela e manutenção dos juros elevados.
Expectativas para os próximos meses
O olhar do mercado agora se volta para os próximos dados econômicos de produção, consumo e inflação, que serão divulgados até o final da semana. Especialistas apontam que as informações poderão definir o ritmo dos ajustes na política de juros.
Contexto internacional e cenário brasileiro
Enquanto os EUA mantêm uma postura mais rígida, no Brasil a política de juros também segue foco no combate à inflação. O Banco Central reforçou, em ata do Copom, a continuidade da Selic em 15% por um período “bastante prolongado”. O ministro Haddad afirmou que a taxa “nem deveria estar em 15%” e que há espaço para alta ou queda, dependendo do cenário inflacionário.
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- Powell: Fonte: Globo
Perspectivas futuras e tensões no Fed
Apesar do esforço de Powell por manter a cautela, há divergências internas entre os diretores do Fed. Michelle Bowman defende uma postura mais agressiva para reduzir os juros, enquanto Goolsbee pede cautela. O próximo foco será nas próximas divulgações do Produto Interno Bruto (PIB) e gastos com consumo, considerados indicadores importantes para o futuro da política monetária americana.
Segundo Paresh Upadhyaya, diretor de Estratégia de Renda Fixa e Câmbio da Pioneer Investments, a postura de Powell foi alinhada com a coletiva anterior do Fomc, o equivalente ao Copom no Fed, o que explica a pouca reação do mercado nesta terça-feira, refletindo a busca por maior clareza nas orientações dos dirigentes.