As mulheres têm conquistado cada vez mais espaço no universo esportivo, mas a compreensão sobre as peculiaridades femininas é fundamental para esse avanço. Dentre os desafios enfrentados, a menstruação se destaca como um tema que ainda é tratado como tabu, especialmente entre as adolescentes. No Brasil, a média da menarca, ou primeira menstruação, ocorre aos 12 anos, mas a nelas, essa fase da vida pode trazer complexidades que afetam a participação no esporte.
A importância da compreensão sobre a menstruação no esporte
Segundo José Maria Soares Júnior, coordenador científico de ginecologia da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), é comum que, durante os primeiros dois anos, os ciclos menstruais das meninas sejam irregulares. Neste período, mais de 60% delas podem experimentar esse tipo de irregularidade, que ocorre devido à imaturidade do eixo que controla o ciclo menstrual. Em situações onde a menstruação atrasa, até 10% das jovens podem ter síndrome dos ovários policísticos, necessitando de acompanhamento médico.
Tathiana Parmigiano, ginecologista do Comitê Olímpico do Brasil, destaca que mais da metade das meninas abandonam atividades esportivas durante a adolescência devido às questões relacionadas à menstruação. A falta de compreensão e suporte adequado por parte de professores de educação física e treinadores, que em sua maioria são homens, pode acentuar o problema. “Quem trabalha com essa faixa etária deve entender que o corpo delas vai mudar e que, eventualmente, elas vão menstruar”, afirma Tathiana.
Desafios enfrentados por meninas atletas
O modo como treinadores e professores lidam com a menstruação pode influenciar a continuidade das meninas no esporte. Tathiana menciona casos de garotas impedidas de sair durante as aulas para trocar o absorvente ou que enfrentaram a falta de compreensão por parte de treinadores, especialmente em modalidades onde a água é um fator importante, como na natação. “A pressão da água pode interromper temporariamente o fluxo visível, mas isso se restabelece ao sair”, explica.
Por isso, a médica defende a importância de ter profissionais que compreendam essas necessidades e recomenda a presença de alguém na equipe que possa ajudar na comunicação. “É essencial que as meninas se sintam à vontade para falar sobre suas necessidades sem vergonha”, ressalta.
Avanços no mercado e novas tecnologias
Felizmente, o mercado tem se adaptado para atender às necessidades das mulheres durante o período menstrual. Existem, por exemplo, calcinhas com forro especial e maiôs projetados para absorver o fluxo. Para alívio das cólicas, adesivos reutilizáveis que proporcionam calor também estão disponíveis. Além disso, adolescentes que já menstruam há algum tempo podem considerar o uso de reguladores hormonais para ajudar a controlar o ciclo, sempre com orientação médica.
A normalização da menstruação como um tema de conversa é essencial. Mesmo que algumas meninas tenham vergonha de falar sobre seus ciclos, existem aquelas que se posicionam com confiança. Um exemplo é uma atleta de 14 anos que, ao ser questionada sobre “vazar”, respondeu que estava menstruada, mostrando que é possível lidar com essa realidade de forma tranquila.
Educação e saúde feminina nas escolas
A cultura de que o ginecologista deve ser procurado apenas quando surgem problemas precisa mudar. Especialistas recomendam que as meninas façam a primeira consulta na adolescência, com foco na orientação sobre saúde menstrual, puberdade e prevenção de doenças. “Esse acompanhamento permite que elas se sintam mais preparadas e tranquilas em relação ao que está acontecendo com seus corpos”, afirma José Maria Soares Júnior.
Além da educação sobre saúde, essa primeira consulta, que deve ocorrer acompanhada de um responsável, costuma ser realizada de maneira não invasiva, exceto em casos específicos. “A primeira menstruação é um marco importante que deve ser celebrado, e a consulta ajuda a consolidar essa transição”, enfatiza Tathiana.
Com o diálogo aberto e o suporte correto, as meninas podem continuar praticando esportes sem que a menstruação seja vista como um empecilho, mas sim como um aspecto natural de suas vidas. A construção de um ambiente esportivo que reconheça e respeite essas particularidades pode ser a chave para assegurar que mais jovens permaneçam ativas e confiante em suas práticas esportivas.