Nova York – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursará na 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (23/9), em um momento crítico marcado pela ampliação de sanções do governo Donald Trump contra autoridades brasileiras. Essas sanções são uma retaliação à condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado.
Contexto das sanções impostas pelo governo Trump
Na manhã anterior ao discurso de Lula, o governo dos Estados Unidos adicionou Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF), à lista de sancionados pela Lei Magnitsky. Além disso, suspendeu os vistos do advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, e de outras autoridades brasileiras. A sanção foi anunciada pelo secretário de Estado, Marco Rubio, que declarou que as sanções devem ser um “alerta” para os que “ameacem os interesses dos EUA ao proteger e habilitar agentes como Moraes”.
As sanções não foram uma surpresa total para o governo brasileiro, que já esperava retaliações após a finalização do julgamento de Bolsonaro. Isso se manifestou em dificuldades enfrentadas pela comitiva brasileira em Nova York, como atrasos na liberação de vistos para ministros. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recebeu autorização para viajar, mas com restrições severas que o levaram a optar pela desistência da viagem. O Ministério da Saúde classificou essas restrições como “infundadas e arbitrárias”.
Impacto do discurso de Lula na Assembleia Geral
O discurso do presidente Lula é tradicionalmente o primeiro a ser proferido na cúpula de líderes da ONU, seguido pelo presidente dos Estados Unidos. Esse ano, a expectativa é que Lula aborde as recentes sanções. Ele terá aproximadamente 20 minutos para se pronunciar. Embora os dois líderes não tenham se encontrado desde o anúncio do aumento de tarifas, a Assembleia Geral da ONU pode marcar o primeiro contato direto entre Lula e Trump desde então.
Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o influenciador Paulo Figueiredo, nos bastidores, pressionaram interlocutores na Casa Branca para que as sanções fossem anunciadas durante a visita de Lula, potencializando assim um constrangimento diplomático ao presidente brasileiro.
A resposta de Lula às sanções e tarifas elevadas
Além do impacto das sanções, o governo Trump também impôs uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, o que inclui um aumento substancial na alíquota a partir de julho. O presidente dos EUA firmou a ordem executiva que oficializa a taxa, que combina uma alíquota inicial de 10% com outros 40%. Contudo, ficou quase 700 produtos fora da lista afetada por essas novas tarifas, incluindo itens como suco de laranja e aeronaves.
As tarifas começaram a valer em 6 de agosto, causando preocupação no Brasil, especialmente para os setores que exportam produtos para os Estados Unidos. O governo brasileiro se vê, assim, em uma posição delicada, tentando equilibrar a diplomacia e proteger os interesses econômicos do país enquanto enfrenta a pressão externa.
Agendas paralelas e a posição do Brasil na ONU
Durante sua estadia em Nova York, Lula participará da Conferência Internacional para a Resolução Pacífica da Questão Palestina e liderará a reunião “Em defesa da democracia: lutando contra o extremismo”, ao lado dos presidentes do Chile e da Espanha. É importante ressaltar que os Estados Unidos não foram convidados para essa última reunião, evidenciando o distanciamento entre os dois países.
Conforme se aproxima a reunião, as expectativas e pressão sobre Lula aumentam, dado que muitos acreditam que ele deve utilizar a plataforma da ONU não apenas para reforçar a posição do Brasil frente às sanções, mas também para discutir assuntos relevantes a nível internacional, como as mudanças climáticas e a instabilidade política na região.
Com a situação delicada em suas mãos, Lula enfrenta um difícil duelo de diplomacia em um ambiente global repleto de tensões e desafios, onde uma palavra, um discurso pode mudar percepções e relações futuras.
Leia mais sobre o impacto das sanções e as agendas na ONU