O arcebispo de Chicago, Cardeal Blase Cupich, afirmou nesta quarta-feira (23) que sua decisão de homenagear o senador democrata Richard Durbin, pró-aborto, em evento de ministério de imigração, faz parte de sua compreensão da dignidade humana e do ensinamento social da Igreja. A homenagem gerou críticas de outros líderes católicos, incluindo o bispo de Springfield, Illinois, Thomas Paprocki.
Defesa de Cupich à homenagem a Durbin
Em uma declaração publicada após a controvérsia, Cupich afirmou que Durbin reside na área de Chicago e considera a arquidiocese como sua igreja. Segundo ele, a homenagem busca reconhecer os esforços do senador na promoção do ensino social católico, incluindo questões de imigração, cuidado com os pobres e a paz mundial. “A partir do coração de uma ética de vida consistente, reconhecemos a dignidade de todos, mesmo quando há diferenças de opinião em questões particulares”, destacou.
Controvérsia e críticas internas
De acordo com o bispo de Springfield, Thomas Paprocki, a homenagem contraria a doutrina da Igreja e prejudica os laços de comunhão eclesial. Em artigo publicado na revista First Things, ele afirmou estar “chocado” com a decisão de Cupich e salientou que Durbin possui um histórico de votos pró-aborto, incluindo tentativas de bloquear legislações que protegem bebês que sobrevivem a aborto espontâneo.
“Dar um prêmio a um político com esse posicionamento viola o ensinamento da Igreja e as diretrizes internas da arquidiocese de Chicago”, criticou Paprocki. Ele ressaltou também que Cupich não teria consultado ou informado o bispo de Springfield sobre a homenagem, mesmo Durbin residindo lá há anos, e que isso representa um desrespeito à autonomia episcopal.
Reações e posições oficiais
Em resposta às críticas, Cupich argumentou que a homenagem valoriza o empenho de Durbin em temas de justiça social e direitos humanos, incluindo sua defesa dos imigrantes e sua adesão à encíclica Laudato Si’. “O reconhecimento da sua luta pelos imigrantes, especialmente em tempos de crise, reflete o amor de Deus pelos marginalizados”, declarou.
Por outro lado, o arcebispo de San Francisco, Salvatore Cordileone, manifestou-se na rede social X (antigo Twitter), apoiando a opinião de Paprocki e pedindo que Cupich reconsiderasse a homenagem, citando o longo histórico pró-aborto de Durbin. “A decisão de homenagear um político com esse posicionamento põe em risco a unidade e a clareza da moral católica”, escreveu Cordileone, que reforçou a importância de defender a dignidade da vida humana desde a concepção.
Repercussões e preocupação na Igreja
Bishop James Conley, de Lincoln, Nebraska, manifestou surpresa e indignação com a homenagem, reforçando que o histórico pró-aborto de Durbin é incompatível com os valores morais da Igreja. Em uma publicação na rede X, ele pediu que a Arquidiocese de Chicago reconsiderasse a decisão, advertindo sobre o risco de escândalo para os fiéis.
Representantes de grupos pró-vida também criticaram a homenagem, destacando que a postura de Cupich reflete uma compreensão ambígua do ensinamento moral da Igreja. Mary Kate Zander, presidente da Expectativa dos bispos dos EUA, afirmou que a Igreja condena a cooperação formal com o aborto, considerando-o uma ofensa grave à vida humana e pedindo maior clareza na postura da Igreja diante de políticos pró-aborto.
Esta controvérsia evidencia a tensão dentro da Igreja Católica dos Estados Unidos acerca de como o ensinamento social deve ser aplicado às questões políticas, especialmente envolvendo figuras públicas com posições contrárias à doutrina. A decisão de Cupich ainda gera debate sobre os limites da acolhida pastoral e do reconhecimento institucional perante posições contrárias aos princípios morais da Igreja.