A pressão do PL para filiar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e lançá-lo à Presidência em 2026 vem gerando incômodos no seu atual partido, o Republicanos. O partido já pleiteia compensações caso perca seu principal ativo eleitoral. Em estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, a legenda busca marcar posição com pré-candidaturas ao governo e ao Senado, sinalizando concorrência com o PL por postos-chave nessas disputas.
Republicanos busca garantir seus interesses eleitorais
Reservadamente, lideranças do Republicanos admitem que o objetivo do partido é fazer com que o PL ceda espaços. Um enredo semelhante ocorreu nas eleições de 2022, quando a própria filiação de Tarcísio ao Republicanos foi articulada pelo então presidente Jair Bolsonaro como uma compensação ao partido. À época, o deputado federal Marcos Pereira (Republicanos-SP), presidente do partido, já havia ameaçado retirar o apoio à coligação de Bolsonaro por insatisfação com a concentração de candidaturas do PL.
Em São Paulo, como mostrou a newsletter Jogo Político, do GLOBO, Tarcísio está avaliando filiar o atual vice-governador Felício Ramuth (PSD) ao Republicanos e lançá-lo como candidato à sucessão estadual em 2026. Em paralelo, o Republicanos passou a incentivar a candidatura do prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga, ao Senado.
A articulação estratégica dentro da disputa
A articulação pode também impedir uma candidatura ao governo do deputado estadual André do Prado (PL), atual presidente da Assembleia Legislativa (Alesp) e nome de confiança do chefe do PL, Valdemar Costa Neto. O vice-presidente da Alesp, deputado Gilmaci Santos (Republicanos), defende que Tarcísio concorra à reeleição e observa que uma eventual saída do governador para a disputa nacional levaria a um rearranjo “complexo”.
— Eu trabalho com a hipótese de Tarcísio ficar no governo. A filiação do Felício (Ramuth) seria algo complicado, ele já é de um partido da base, o PSD. É claro que, se Tarcísio se lançar à Presidência, o Republicanos vai ter que discutir os espaços — afirmou Gilmaci.
No Rio de Janeiro, o Republicanos rejeita investidas do PL para compor com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e com o governador Cláudio Castro (PL). O partido busca apresentar uma candidatura própria ao Senado, com nomes como o deputado federal Marcelo Crivella, que é autor de um projeto de redução de penas por golpismo, e a ex-deputada Clarissa Garotinho.
Movimentações eleitorais em Minas Gerais e o impacto na política local
Outra compensação pleiteada pelo Republicanos é em Minas Gerais, onde o partido avalia lançar o senador Cleitinho Azevedo como candidato ao governo. O deputado federal Euclydes Pettersen (Republicanos-MG), aliado de Cleitinho, articula também uma vaga ao Senado. Ambos têm dialogado com Valdemar, que estuda uma composição em que o PL indique a outra cadeira de senador.
Essas manobras, no entanto, não agradam ao vice-governador de Minas, Mateus Simões (Novo), que também concorrerá ao Executivo estadual e busca apoio do bolsonarismo. As movimentações refletem a complexidade do cenário político e as articulações necessárias para garantir posições nas eleições de 2026.
No fim de agosto, Valdemar afirmou que Tarcísio já se comprometeu, em conversas com dirigentes partidários, a se filiar ao PL caso dispute a Presidência em 2026. Dias depois, Pereira sugeriu que poderia lançar o governador de São Paulo como candidato ao Palácio do Planalto pelo Republicanos.
Apesar do discurso de Pereira, interlocutores de Bolsonaro e de Tarcísio afirmam que o governador já indicou, em mais de uma ocasião, que a migração para o PL é uma questão de tempo.
Inicialmente, Tarcísio havia informado a Bolsonaro e a aliados que se filiaria ao PL no início deste ano. Contudo, a recente condenação de Bolsonaro a 27 anos de prisão pela trama golpista reforçou os apelos para que o ex-presidente formalize seu apoio a Tarcísio, assim como para que o governador oficialize a troca de partido.