Brasil, 21 de setembro de 2025
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A nova estratégia dos EUA nas vendas de armas à Europa

A mudança na política de vendas de armamentos dos EUA à Europa levanta preocupações sobre a segurança dos aliados e o equilíbrio militar na região.

Nos últimos tempos, um sinal claro sobre a alteração na abordagem dos Estados Unidos em relação à venda de equipamentos militares para a Europa surgiu quando a Dinamarca se aproximou de uma decisão sobre a compra de um sistema de defesa aérea de múltiplos bilhões de dólares. Nas semanas que antecederam essa decisão, negociadores americanos e franceses estavam em intensa competição pelo acordo. Entretanto, à medida que o prazo se aproximava, o Pentágono inesperadamente perdeu o interesse.

Mudanças na política de vendas militares

“Não conseguimos entender o motivo,” disse um contratado que acompanhava as discussões. “Parecia uma decisão óbvia, mas eles simplesmente não estavam interessados.” O ponto de virada ocorreu durante uma ligação com o Departamento de Estado, onde o subsecretário de Defesa para Política, Elbridge Colby, afirmou não acreditar no valor de certas vendas militares estrangeiras. Especificamente, Colby expressou preocupação em vender sistemas Patriot à Dinamarca, alegando que esses armamentos estão em escassez e devem ser reservados para uso dos Estados Unidos quando necessário.

Esses comentários surpreenderam muitos funcionários do Estado, que logo perceberam que a restrição não se limitava à Dinamarca. Funcionários atuais e ex-administrativos informaram que o Pentágono identificou alguns armamentos como estando em curto suprimento e está movendo-se para bloquear novos pedidos desses sistemas a partir da Europa.

Consequências e preocupações

Se a medida for de longo prazo, corre-se o risco de criar novas fraturas com aliados, enfraquecendo suas defesas em um momento em que a Rússia representa uma ameaça iminente. Além disso, essa mudança poderia significar a perda de bilhões de dólares em receitas governamentais e privadas, resultando em uma redução do número de empregos na indústria de defesa, limitando a expansão de produtos e restringindo a pesquisa e desenvolvimento.

Na semana passada, a Dinamarca assinou um acordo de US$ 9,1 bilhões para comprar sistemas de defesa aérea de longo alcance feitos por um empreendimento conjunto francês-italiano, além de sistemas de médio alcance de outros países escandinavos. Esta foi a maior compra de armas já registrada pela Dinamarca, mostrando que, apesar das dificuldades, o país seguiu adiante com sua necessidade de defesa.

O papel das vendas militares na política externa dos EUA

As vendas militares sempre foram uma ferramenta fundamental da política externa americana, usada para garantir interesses de segurança nacional no exterior ao fortalecer as capacidades de defesa de países aliados. Desde a Guerra Fria, os Estados Unidos começaram a vender equipamentos militares a nações consideradas amigas, fortalecendo as alianças e expandindo sua influência global.

Exemplos incluem mísseis antinavio americanos e jatos de combate que fortalecem a defesa de Taiwan contra a ameaça de invasão da China, e as vendas para Israel que auxiliam o país em sua luta contra ataques do Hamas e do Irã. A assistência militar fornecida pelo Ocidente, incluindo sistemas de defesa aérea e veículos de combate comprados por países europeus e enviados à Ucrânia, foi crucial para a resistência do governo de Kiev frente à invasão russa.

No ano fiscal de 2024, as transferências somaram valor equivalente a US$ 117,9 bilhões, mas a mudança de prioridades na administração atual, que incluiu defensores do “América Primeiro”, tem levado a um foco maior na reposição dos estoques americanos em detrimento das relações com aliados de longa data.

Implicações da nova abordagem

A Secretaria de Imprensa do Pentágono, Kingsley Wilson, afirmou que qualquer sugestão de que Colby estava secretamente implementando decisões de política era “absurda”. Enquanto isso, o conselheiro do Departamento de Estado, Michael Needham, contestou a ideia de que o departamento foi pego de surpresa com a reavaliação das vendas às nações europeias.

Entretanto, a mudança se alinha à visão de Colby de que a China é a única nação com ambições e recursos para superar os EUA como a maior superpotência mundial. Para ele, a única maneira de evitar a dominação global por Pequim é concentrar os recursos americanos na segurança do Pacífico ocidental, minimizando a segurança europeia.

Várias nações europeias enviaram armamentos valiosos à Ucrânia para ajudá-la contra a invasão russa, e, em troca, compraram armas fabricadas nos EUA para reabastecer seus próprios estoques. No entanto, a mais recente discussão sobre bloqueio de armas não inclui aquelas enviadas diretamente para a Ucrânia.

“Dizemos aos europeus que queremos que eles enviem armas para a Ucrânia e comprem substitutos, mas, ao mesmo tempo, dizemos: ‘vocês não podem tê-las’,” afirmou Mark Cancian, coronel aposentado e consultor no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.

O futuro das vendas de armas

A guerra na Ucrânia tem pressionado os estoques não apenas nos EUA, mas também na Europa, gerando discussões sobre como revitalizar a base industrial de defesa. Um dos armamentos mais solicitados tem sido o sistema Patriot, que a Dinamarca considerou adquirir. Seu uso intensivo na guerra de Ucrânia contra a Rússia e em conflitos no Oriente Médio aumentou as preocupações sobre os estoques, levando à atual suspensão das exportações.

Defensores das vendas militares alegam que essas transações ajudam a financiar a expansão das linhas de produção e o desenvolvimento de novos sistemas de armas. Por exemplo, a Boeing produziu o F-15EX graças a bilhões de dólares em pedidos da Arábia Saudita. Essa dinâmica tem ganho forte apoio no Congresso, onde os legisladores reconhecem a importância dos empregos gerados em suas regiões.

No entanto, se a nova abordagem resultar em uma desaceleração nas vendas, muitos aliados podem buscar alternativas em outros lugares. A pressão para garantir a segurança diante da crescente ameaça russa pode levar países europeus a procurarem novos fornecedores de defesa, complicando ainda mais as relações transatlânticas.

Assim, o futuro das vendas de armas dos EUA à Europa permanece incerto, com implicações significativas para a segurança européia e a influência americana na região.

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