A indústria global de tênis vem passando por uma transformação significativa, com o Vietnã assumindo o protagonismo como maior fabricante mundial. Desde o início dos anos 2020, o país ultrapassou a China na produção de calçados destinados ao mercado internacional, impulsionado por mudanças na cadeia de suprimentos e tensões comerciais.
Vietnã conquista liderança na fabricação de tênis
Segundo fontes do setor, o Vietnã agora é responsável por uma fatia maior da produção de tênis para marcas como Nike, Adidas, Brooks e Saucony, que antes dependiam majoritariamente da China. A mudança ocorreu após anos de investimento na cadeia de produção vietnamita, que oferece custos mais baixos e uma força de trabalho crescente.
Em 2018, a administração do então presidente Donald Trump ameaçou impor tarifas de até 46% sobre produtos vietnamitas importados para os Estados Unidos. Embora posteriormente o acordo tenha reduzido essas tarifas para 20%, o impacto foi suficiente para acelerar a mudança de fornecedores. A Nike, por exemplo, estima que as tarifas adicionais poderiam gerar cerca de US$ 1 bilhão em custos neste ano, levando a uma redução na produção na China e maior foco no Vietnã.
Transição da cadeia de suprimentos e os desafios
Antes da pandemia de Covid-19, a China dominava a fabricação global de calçados devido à sua vasta capacidade fabril, baixos custos e acesso a matérias-primas. No entanto,restrições de fronteira e aumento dos custos trabalhistas intensificaram a busca de empresas por alternativas na Ásia, especialmente no Vietnã. O país, com uma população jovem crescente e políticas governamentais que incentivam o investimento estrangeiro, se consolidou como uma nova base de produção.
“Foi como a abertura da China na década de 1980”, explica Tony Le, executivo americano que mudou-se para Ho Chi Minh em 2019 e acompanha de perto a evolução da indústria local. Segundo ele, a dependência excessiva de um único país sempre foi um risco, e o Vietnã oferece uma cadeia de suprimentos mais dispersa e rápida para o setor de calçados.
Redução da dependência da China na cadeia de produção
Empresas como Jones & Vining, fabricante de formas de calçados há 90 anos, já atuam no Vietnã há mais de uma década, produzindo cerca de 500 mil formas por ano. Essas peças são essenciais na fabricação de tênis e representam cerca de 70% do que é produzido na fábrica vietnamita, atendendo principalmente marcas internacionais.
Mesmo com o avanço vietnamita, alguns materiais ainda vêm da China, mas essa dependência tem diminuído. A cadeia de suprimentos vem se tornando cada vez mais localizada, possibilitando maior agilidade na produção e distribuição.
Incertezas e o impacto na economia vietnamita
Apesar do crescimento, o setor enfrenta desafios, como a indefinição das tarifas americanas e possíveis medidas protecionistas. Planeja-se, por exemplo, que mercadorias transbordadas do Vietnã para os Estados Unidos possam sofrer tarifas adicionais de 40%, o que ainda gera insegurança entre as empresas.
O boom industrial também promoveu melhorias sociais e econômicas no Vietnã. Pham Kieu Diem, uma trabalhadora que ajudou a transformar antigos campos de arroz em fábricas, exemplo da mudança social promovida pelo setor. Ela recorda o início de sua jornada na indústria e como a renda obtida ajudou a sua família a conquistar uma casa própria.
O futuro da indústria de calçados no Vietnã
Com a contínua migração de fábricas e a diversificação de fornecedores, o Vietnã deve consolidar sua posição de liderança no setor de tênis. A evolução da cadeia de produção, aliada à competitividade de custos e ao apoio governamental, indica que a tendência de despesa com mão de obra na China pode não se reverter tão cedo.
Seus avanços também estimulam debates sobre a necessidade de uma cadeia de suprimentos mais resiliente, menos vulnerável a tensões políticas e às crises globais. A transformação no setor de calçados é um indicativo de que a reorganização da produção na Ásia ainda está em andamento, com o Vietnã desempenhando papel central nesse cenário.
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