O debate digital em torno da aprovação da PEC da Blindagem pela Câmara dos Deputados foi marcado por uma união inusitada entre a esquerda e o Movimento Brasil Livre (MBL) nas críticas ao projeto. Um levantamento realizado pela consultoria Arquimedes, a pedido do GLOBO, revela que a base esquerdista dominou 89% das discussões nas redes entre os dias 16 e 19 de setembro. Isso se somou à participação de membros de direita não bolsonaristas, especialmente do MBL, que representou 4% dos comentários. Este fenômeno revela um panorama político onde os desacordos ideológicos tradicionais foram deixados de lado em prol de uma crítica conjunta ao texto da PEC.
A repercussão da PEC da Blindagem
Entre os membros do MBL, o deputado federal Kim Kataguiri posicionou-se contra a PEC, caracterizando o cenário pós-aprovação como “desesperançoso”. O setor bolsonarista, por sua vez, teve uma participação reduzida, representando apenas 7% do debate, e procurou justificar a necessidade do acordo pela urgência de uma anistia. Contudo, o relatório da Arquimedes indicou que esse argumento foi amplamente questionado pelos opositores do projeto.
Durante o período analisado, foram registradas mais de meio milhão de menções sobre a PEC nas plataformas digitais, com um pico de aproximadamente 250 mil publicações no dia 17, logo após a votação. Essa mobilização foi impulsionada pela preocupação com a transparência, a responsabilização dos parlamentares e a luta contra a corrupção. “A pauta rapidamente deixou de ser apenas um debate legislativo e se tornou um símbolo da insatisfação popular com o Congresso”, explica o relatório.
Mobilização em torno da indignação popular
Os perfis alinhados à esquerda desempenharam um papel central na amplificação do debate, organizando-se em torno de hashtags como #PECDaBandidagem e #CongressoInimigoDoPovo. Esse enfoque moralizador associou a imagem dos parlamentares a práticas criminosas, aumentando a indignação e a denunciação nas redes sociais. A pesquisa indicou que esses perfis não apenas mobilizaram o público já engajado na política, mas também buscaram traduzir o contexto legislativo para um público mais amplo, transformando a proposta em um tema de indignação popular e mobilização coletiva.
Além disso, o levantamento aponta que os usuários progressistas tentaram atribuir responsabilidades a partidos que apoiaram a aprovação da PEC, em especial o PL, contrastando com setores progressistas que denunciavam a medida. A mobilização teve ainda o apoio de artistas como Anitta e Caetano Veloso, que se manifestaram nas redes, contribuindo para a amplificação da discussão.
A proposta da PEC da Blindagem
A PEC da Blindagem, aprovada pela Câmara dos Deputados, visa ampliar a proteção dos parlamentares contra investigações e processos tanto civis quanto criminais. No dia seguinte à votação, os parlamentares decidiram manter o voto secreto, que já fazia parte do texto original da proposta, mas que havia sido retirado anteriormente após um pedido do partido Novo para votação em separado.
O texto aprovado retoma a exigência de que o Congresso dê aval para que os parlamentares respondam a processos criminais no Supremo Tribunal Federal (STF). Esta proposta altera o artigo 53 da Constituição, que trata das garantias e prerrogativas dos congressistas, e inclui novos dispositivos que tornam mais rígidas as exigências referentes a processos judiciais contra deputados e senadores.
Em síntese, o debate digital sobre a PEC da Blindagem foi caracterizado por uma fusão de críticas às instituições e uma moralização política intensa. Influenciadores digitais e perfis progressistas não apenas aumentaram o alcance da discussão, mas também a conectaram à vida cotidiana de muitos brasileiros que não costumam acompanhar de perto as atividades do Congresso. Este movimento acabou por estruturar uma narrativa de resistência, tornando-se um catalisador da mobilização digital.
Com uma polarização política crescente e uma população cada vez mais atenta às questões legislativas, a discussão em torno da PEC da Blindagem reflete não apenas um momento crítico na política brasileira, mas também a capacidade das redes sociais de moldar debates e influenciar a opinião pública.
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