O Papa Leo XIV afirmou neste sábado (20), na Praça de São Pedro, que o perdão é uma virtude fundamental para a justiça, especialmente na atuação de profissionais jurídicos durante o Jubileu dos Trabalhadores da Justiça em Roma.
O papel do perdão na justiça evangelizadora
Leo XIV, que possui doutorado em direito canônico, destacou que a virtude evangélica da justiça não distrai, mas questiona e redireciona a justiça humana, levando-a a buscar a reconciliação. “É a força do perdão, que é legítima ao mandamento do amor, que emerge como elemento constitutivo de uma justiça capaz de unir o sobrenatural e o humano”, afirmou.
O pontífice ressaltou também que o mal deve ser não apenas punido, mas reparado, por isso é necessário um olhar mais profundo ao bem individual e coletivo. “Essa é uma tarefa árdua, mas não impossível para aqueles que, conscientes de que desempenham um serviço mais exigente, vivem de maneira irrepreensível”, acrescentou.

Estima-se que cerca de 20 mil pessoas de 100 países participaram do evento, que faz parte do Jubileu da Esperança, incluindo uma grande presença de fiéis dos Estados Unidos e Canadá. Entre os presentes, estava o juiz da Suprema Corte dos EUA, Samuel Alito.
Joshua McCaig, advogado e presidente fundador da Catholic Bar Association, viajou a Roma com uma delegação de mais de 50 profissionais jurídicos americanos, e disse à EWTN News que espera que a celebração “seja uma oportunidade para refletirmos sobre o que mais podemos fazer pelo bem comum”.
Ele afirmou ainda que a Igreja Católica fornece recursos, esperança, comunidade e valores ensinados por Jesus Cristo que ajudam todos, inclusive profissionais do direito, a compreenderem melhor seu papel na sociedade.
Reflexões teológicas e o papel do jurista na Igreja
Antes do encontro com o Papa, o arcebispo Juan Ignacio Arrieta, secretário da Congregação para os Textos Legislativos, ministrou uma palestra sobre “Iustitia Imago Dei: o operador da justiça, instrumento da esperança”.
Arrieta destacou que quem administra a justiça na Igreja também deve ser pastor. “Devem respeitar a justiça, mas também zelar pelo bem das almas”, ressaltou.
Justiça como virtude essencial e o desafio social
Na sua mensagem, Leo XIV reforçou que a função da justiça “é indispensável para o desenvolvimento ordenado da sociedade e como uma virtude que inspira e orienta a consciência de todo homem e mulher”.
Segundo ele, buscar a justiça exige amor por ela, atenção constante, desinteresse radical e discernimento assíduo. O Papa também lembrou que o Jubileu é uma oportunidade para refletir sobre um aspecto muitas vezes negligenciado: o fato de que muitos países e pessoas “hunger e thirst for justice”, devido às condições de vida profundamente injustas e desumanas.
O pontífice citou Santo Agostinho, chamando suas palavras de “verdades atemporais” que se aplicam à situação internacional atual: “Sem justiça, o estado não pode ser governado; é impossível ter lei em um estado onde não há justiça verdadeira.” Segundo ele, uma sociedade sem justiça não é um verdadeiro Estado, pois a justiça distribui o que é devido a cada um.
Leo XIV concluiu seu discurso desejando que essas palavras do doutor da Igreja inspirem todos a exercerem a justiça ao serviço do povo, sempre com o olhar voltado para Deus, a fim de respeitar plenamente a dignidade das pessoas, a lei e a justiça.