O presidente argentino Javier Milei enfrenta uma crise de confiança no mercado financeiro, com uma forte saída de capitais e uma intensa intervenção do Banco Central para sustentar o peso. Na manhã de sexta-feira, operadores realizaram vendas de US$ 678 milhões na tentativa de evitar uma desvalorização descontrolada da moeda nacional, que nesta semana atingiu o menor valor em 15 meses, a R$ 5,30. A intervenção total em três dias chegou a impressionantes US$ 1,1 bilhão, em um país com reservas internacionais líquidas estimadas em menos de US$ 20 bilhões.
Crise cambial e impasse político na Argentina
Para Milei, que prometeu acabar com a inflação descontrolada e implementar uma dolarização da economia, a estabilidade do peso é fundamental. Ele afirmou, na sexta-feira, que fará “tudo o que for preciso para proteger a qualidade de vida dos argentinos”, enquanto viajava a Córdoba para participar de eventos políticos e comemorações na bolsa local.
No entanto, sua gestão tem sido marcada por intervenções constantes no mercado de câmbio e por um endurecimento das regras cambiais, o que reforça o quadro de instabilidade. Como observou a analista Christine Reed, da Ninety One, “mesmo com o esforço do Banco Central vendendo dólares no teto da banda cambial, há dúvidas sobre a sustentabilidade dessa estratégia”.
Expectativas e estratégias futuras
Especialistas alertam que, sem apoio majoritário no Congresso nas próximas eleições legislativas do dia 26 de outubro, será difícil para Milei controlar a situação. A resistência do Congresso à sua agenda de austeridade, aliada ao risco de descontrole cambial, aumenta as chances de uma nova desvalorização da moeda e de uma crise econômica mais profunda.
Alguns gestores, como Reed, mantém posições cautelosas, protegendo suas carteiras contra o cenário de turbulência política e econômica. “Mesmo que a política cambial seja insustentável nas próximas semanas, pode ser necessário mantê-la para garantir a vitória nas urnas”, afirma ela.
Reversão na confiança internacional e riscos de longo prazo
Após um início de mandato marcado por previsões otimistas e valorização dos ativos, a Argentina agora atravessa uma fase de forte volatilidade. A derrota do governo nas eleições locais, incluindo a vitória da oposição peronista na principal província de Buenos Aires, reforça o pessimismo entre investidores.
Segundo analistas do Morgan Stanley, “há dúvidas sobre a continuidade da estratégia de venda de dólares pelo Banco Central, e a possibilidade de uma necessidade de reestruturação macroeconômica já começa a ser considerada”.
Enquanto isso, Milei tenta manter sua agenda de reformas radicais e atrair apoio antes do pleito, incluindo negociações com o Fundo Monetário Internacional, que já ajudou a Argentina com um acordo de US$ 20 bilhões neste ano. No entanto, a crise de confiança aumenta o risco de uma saída de capitais ainda maior, aumento da inflação e descontrole econômico, colocando em risco até mesmo os planos de dolarização propostos pelo governo.
Para os analistas, o cenário permanece delicado, com a incerteza política e o deterioramento da situação financeira ameaçando transformar a crise em uma fase mais profunda de instabilidade no país.
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