Após uma derrota nas eleições legislativas regionais de Buenos Aires, o governo do presidente Javier Milei enfrenta uma crise econômica e cambial crescente. Nesta semana, o Banco Central argentino interveio no mercado com US$ 432 milhões, tentando conter a alta do dólar paralelo e oficial, que atingiram limites críticos, em meio a um cenário de instabilidade política e econômica.
Crise cambial e intervenção do Banco Central
Nos últimos dias, o dólar oficial chegou a ser negociado a 1.490 pesos no Banco Nación, enquanto o dólar no mercado paralelo disparou para 1.510 pesos, aumentando 20 pesos em relação ao dia anterior. Para conter a alta, o BC interveio mais uma vez, com recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI), uma prática que alimenta as dúvidas sobre a sustentabilidade do modelo econômico atual.
Segundo fontes do mercado, reservas líquidas do Banco Central argentino estão em torno de US$ 6 bilhões, um valor considerado insuficiente para sustentar o câmbio. Especialistas avaliam que o governo está, na prática, utilizando dólares do FMI para manter o sistema de bandas cambiais, o que pode ser insustentável a longo prazo.
Deterioração da economia e incertezas políticas
A economia argentina acumulou uma forte crise, com retração no segundo trimestre e aumento da volatilidade cambial. A Bolsa de Buenos Aires registrou a pior performance global em 2025, com queda de quase 30%, enquanto o risco país atingiu 1.400 pontos, pressionando títulos públicos e bancos, como o Balanz, que reportou perdas superiores a 15% nos últimos meses.
Senadores e investidores estão preocupados, pois a ausência de reservas e a instabilidade política criam dúvidas sobre o futuro do governo Milei. Para Tito Nolazco, da Prospectiva, “a deterioração da situação na Argentina era, de certa forma, esperada”, mas a velocidade dos acontecimentos surpreende o mercado.
Impacto das eleições e riscos futuros
O resultado das eleições legislativas de 26 de outubro é considerado crucial, pois determinará se Milei terá espaço para preservar sua política econômica ou se será forçado a ceder às pressões internas, especialmente de governadores que solicitam mais recursos para suas regiões.
Analistas alertam que, sem uma solução política, o país pode caminhar para uma recessão, agravada por uma inflação que, embora em declínio para cerca de 2% ao mês, ainda está longe de atingir a meta de 10,01% ao ano para 2026. Segundo Dante Sica, ex-ministro e atual diretor da Abeceb, os próximos meses serão decisivos para a recuperação econômica argentina.
Enquanto isso, as reservas do FMI continuam sendo o recurso principal para o governo, embora a dúvida sobre a capacidade de Milei manter o câmbio sob controle sem recorrer às reservas siga crescendo. A navegação em águas turbulentas marca a crise que assola a Argentina, e o desfecho dependerá do resultado eleitoral e das ações do governo nas próximas semanas.
Fonte: GLOBO