Na semana passada, o banco Itaú anunciou a demissão de mais de 1.000 funcionários que atuavam em regime remoto ou híbrido, surpreendendo muitos pelo grau de controle exercido sobre suas atividades. Conforme apurou a BBC News Brasil, o banco utilizou ferramentas de monitoramento que analisaram dados como uso de mouse, teclado, chamadas de vídeo, envio de mensagens e navegação na internet durante quatro meses.
Monitoramento de atividades no trabalho remoto é avançado e detalhado
Embora o uso de softwares para acompanhar a produtividade de funcionários de home office não seja uma prática recente, o nível de detalhamento dessas plataformas chamou atenção. O banco afirmou que as ferramentas utilizadas não captam telas, áudios ou vídeos, para evitar violações à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Ainda assim, várias plataformas, como XOne e Teramind, possibilitam acompanhar em tempo real atividades, sites acessados, ações automatizadas e até a geolocalização do computador.
Ferramentas de vigilância: o que é possível fazer?
Segundo análises da BBC, plataformas como Teramind oferecem monitoramento do histórico de navegação, controle remoto do computador, análise de atividades em redes sociais, identificação de comportamentos potencialmente maliciosos com gravações em vídeo e aferição de produtividade mediante indicadores de horas trabalhadas. Além disso, exibem rankings de colaboradores com menor aderência à jornada de trabalho e alertas para ações consideradas irregulares, como visitas a sites de busca de emprego ou envio de e-mails com dados sensíveis.
Casos judiciais e controvérsias sobre o uso dessas plataformas
Na Justiça do Trabalho brasileira, ao menos duas ações, em 2022, citaram o uso da plataforma Teramind por uma concessionária de veículos em São Paulo. Em uma delas, um ex-empregado alegou que seu monitoramento informava horários, atividades e até ligações, configurando controle de jornada semelhante ao de um empregado na contratação direta. A empresa, porém, não foi alvo do processo. A discussão aponta para uma questão de limites e legalidade do monitoramento no trabalho remoto.
Reações dos funcionários e questionamentos éticos
Relatos de colaboradores demitidos do Itaú indicam clima de ansiedade e medo de retaliações, com muitos levanto computadores até para ir à cozinha ou beber água, com receio de serem considerados inativos. Pesquisadores alertam que esse tipo de vigilância pode agravar a disputa por empregos e criar ambientes de trabalho mais repressivos, sobretudo sem transparência total por parte das empresas.
Legislação e responsabilidade das empresas
Especialistas explicam que a LGPD não impede o monitoramento — desde que haja consentimento e comunicação clara ao trabalhador. Para Pedro Henrique Santos, da Data Privacy Brasil, é fundamental que as companhias expliquem o que monitoram, como o fazem e por quê, além de avaliar se o uso dessas ferramentas realmente agrega valor à gestão e à segurança da informação, sem infringir direitos essenciais.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) instaurou uma investigação sobre as demissões do Itaú, pedindo esclarecimentos sobre a utilização dessas plataformas de vigilância. O debate sobre o limite entre controle, privacidade e produtividade deve continuar, especialmente à medida que o trabalho remoto se consolida como uma prática comum.
Apesar do recuo na plataforma XOne após a repercussão do caso, a questão deixa no ar a necessidade de uma regulamentação mais clara sobre o uso de softwares de monitoramento no Brasil.
Para saber mais, acesse a reportagem completa no site da G1.