Após uma semana de forte volatilidade, a Argentina enfrenta uma intensa crise cambial que pressionou o dólar e reduziu suas reservas internacionais, configurando um cenário de instabilidade econômica. Segundo dados divulgados nesta sexta-feira (19), o dólar no mercado à vista atingiu US$ 1,475, com uma valorização de cinquenta centavos em relação ao dia anterior, refletindo a saída de mais de US$ 432 milhões do sistema financeiro entre quarta e quinta-feira.
Intervenções e desdobramentos no mercado cambial argentino
Após duas sessões consecutivas de venda de dólares pelo Banco Central argentino, o governo reafirmou a intenção de manter o regime de banda cambial, com o ministro da Economia, Luis Caputo, afirmando que venderá “até o último dólar no teto da banda”. Segundo ele, não há previsão de mudanças na política cambial, mesmo com a queda acentuada das reservas do país, que hoje somam aproximadamente US$ 6 bilhões, estimativas de analistas da corretora one618 Group.
Para o economista Santiago Resico, da mesma corretora, o custo de defender o câmbio até as próximas eleições pode chegar a US$ 9,75 bilhões, o que é considerado alto demais para o contexto atual. “Este custo pode forçar o governo a rever o regime cambial, o que agravaria ainda mais a crise”, afirmou à Bloomberg.
Impacto no mercado financeiro e na economia argentina
O dólar no mercado varejista fechou nesta sexta-feira em US$ 1.515 nas bolsas do Banco Nación, atingindo seu maior valor nominal já registrado e representando um aumento de US$ 20 em relação ao fechamento anterior, uma valorização de 1,3%. O volume de negociações, de US$ 842,676 bilhões, foi o terceiro maior de 2025.
Apesar da turbulência cambial, o desemprego na Argentina caiu, proporcionando um alívio temporário para a economia e para o presidente Javier Milei, que enfrenta baixa de popularidade e uma contração de 0,1% no PIB no último trimestre, divulgado na quarta-feira. O cenário econômico precário, no entanto, indica desafios persistentes.
Perspectivas futuras e desafios para Milei
Especialistas apontam que a intervenção contínua no câmbio, aliada à deterioração dos indicadores econômicos, pode sinalizar uma necessidade de mudança na política econômica do governo argentino. A dificuldade em conter a alta do dólar e a queda nas reservas internacionais indicam que o país pode precisar de medidas adicionais para estabilizar o mercado cambial e evitar uma crise de credibilidade.
Segundo a reportagem da Bloomberg, o governo argentinopodera ter realizado uma nova intervenção de aproximadamente US$ 700 milhões nesta semana, numa tentativa de sustentar o valor da moeda diante das pressões externas e internas.
*Com Bloomberg e La Nacion