Após atingir o menor nível histórico em 2023, o trabalho infantil no Brasil voltou a aumentar em 2024, com um crescimento de 2,1%, segundo dados do IBGE. O levantamento revela que, neste ano, 1,65 milhão de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos estavam em algum tipo de atividade econômica, superando o total de 1,61 milhão registrado em 2023.
Dados atualizados e contexto
A pesquisa PNAD Contínua do IBGE aponta que a fatia de pessoas na faixa de 5 a 17 anos em situação de trabalho infantil subiu de 4,2% para 4,3% entre 2023 e 2024, representando um acréscimo de aproximadamente 34 mil jovens. Apesar dessa variação positiva, o número ainda está abaixo dos 2,10 milhões registrados em 2016, início da série histórica, que correspondia a 5,2% da mesma faixa etária.
Progresso e retrocessos
Redução nos trabalhos mais perigosos
Paralelamente ao aumento geral, houve uma diminuição de 5,1% nos casos de crianças e adolescentes envolvidos nos piores trabalhos, classificados na lista TIP (Trabalho Infantil Perigoso). O número caiu para cerca de 560 mil, pontuando a tendência de queda nesse segmento desde 2016.
Segundo Gustavo Geaquinto Fontes, analista do IBGE, a alta de 2024 não indica uma reversão de tendência, mas uma estabilidade momentânea. “Ainda é cedo para afirmar uma mudança definitiva, mas o aumento deve ser monitorado nos próximos anos”, explicou.
Impactos do Bolsa Família e programas sociais
Em 2023, a redução da pobreza, impulsionada pelo aumento do valor do Auxílio Brasil — que passou de R$ 400 para R$ 600 em agosto de 2022 — foi um fator importante na queda do trabalho infantil. A continuidade do programa, agora reformulado como Bolsa Família, contribuiu para que 8,7 milhões de pessoas deixassem a condição de pobreza em 2023, uma queda de 14,7% em relação ao ano anterior.
Entretanto, o IBGE aponta que a quantidade de crianças e adolescentes que trabalham em 2024 permanece elevada, especialmente entre os que não recebem os benefícios sociais. Entre os que vivem em domicílios beneficiados pelo Bolsa Família, o percentual de trabalho infantil se manteve praticamente estável, com aumento de 0,28%, totalizando 717 mil jovens na condição.
Diferenças por sexo, raça e faixa etária
O crescimento registrado foi mais expressivo entre meninos de 16 e 17 anos, grupo que apresentou alta de 8,45% na renda média, e entre jovens pretos e pardos, cuja remuneração média aumentou 6,9%. Já as meninas e jovens brancas tiveram redução de renda, com queda de 53,12% e aumento de apenas 3,17%, respectivamente.
Na divisão por faixa etária, houve forte recuo na renda das mulheres entre 5 e 13 anos, caindo 53,12%, com rendimento médio de R$ 165, em 2024. Os homens na mesma faixa etária tiveram uma redução de 15,86%, para R$ 244.
Perspectivas e desafios
Apesar da leve alta no total de jovens em atividades econômicas, especialistas avaliam que o cenário ainda não revela uma reversão na tendência de queda do trabalho infantil. Gustavo Fontes reforça que é necessário acompanhar os dados de 2025 para entender se o aumento de 2024 foi uma variação pontual ou sinal de mudanças mais profundas.
O impacto social e a preservação dos direitos das crianças continuam sendo desafios importantes. Dados apontam ainda que, em 2024, uma criança ou adolescente morre, em média, três vezes por mês em acidentes relacionados ao trabalho no Brasil.
Para mais informações, acesse o site do IBGE.