A recente aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem na Câmara dos Deputados na terça-feira se apresentou como uma verdadeira aula de manobras políticas no Brasil. Com 344 votos favoráveis, a proposta uniu praticamente todas as legendas em um verdadeiro movimento de proteção aos parlamentares, levantando questões sobre a ética na política e o futuro das investigações de corrupção.
Apenas mais um capítulo da politicagem brasileira
Este episódio evidencia que, quando existem interesses em jogo, até os mais absurdos dos projetos podem avançar rapidamente no Congresso. Há pelo menos quatro anos, o desejo de dificultar investigações contra parlamentares circulava entre os corredores do poder, e esse projeto, que inicialmente foi apresentado em 2021 sob liderança de Arthur Lira (PP-AL), finalmente ganhou forma e força no cenário atual.
A tal PEC surgiu como uma reação direta à prisão do deputado Daniel Silveira, que foi detido após atacar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) nas redes sociais e defender ações extremas contra a Justiça. O argumento de defesa da liberdade de expressão ganhou força e apoio tanto de figuras ligadas ao bolsonarismo quanto de líderes do PT, que temiam a “criminalização da política” após a Operação Lava-Jato.
A estratégia e os jogos de poder em Brasília
À medida que a PEC avançava, observou-se um claro conluio entre os partidos, como se a proteção de autoridades e interesses pessoais estivesse acima das preocupações com a população e a moralidade política. As reivindicações do Centrão, um bloco geralmente visto como o fiel da balança nas votações do Congresso, evidenciam a fragilidade das estruturas de controle da corrupção no país.
Os burburinhos sobre a anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro trouxeram novas dinâmicas. O novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), se viu no centro dessa negociação maluca. A aprovação da PEC foi apresentada como essencial para que o Centrão e outros partidos, temendo a aviação de investigações, votassem em favor de prioridades governamentais, como a Medida Provisória que amplia a isenção na conta de luz para famílias de baixa renda.
A pressão social e o pano de fundo político
A forte pressão social e o entendimento de que os extremos enlameavam ainda mais a política brasileira fizeram com que lideranças, que em outras ocasiões se viam como opostas, se unissem em favor da PEC. A tática de priorizar interesses partidários e eleitorais ao invés de questões relevantes para o povo foi eficiente, mas levantou críticas sobre a falta de transparência e ética nas decisões.
A aprovação da proposta foi rápida, e o apoio de vários partidos se fez notar, evidenciando que, em Brasília, as fronteiras ideológicas podem ser bastante flexíveis. Apesar da resistência expressa em discursos, a permissão para a PEC da Blindagem assinalou uma nova era de impunidade para parlamentares, em um cenário em que as investigações podem se ver igualmente ameaçadas.
A votação que se seguiu à PEC foi uma demonstração clara de que os interesses pessoais podem mais do que qualquer compromisso com a justiça social, evidenciando que, no fim das contas, o que prevalece é a política do “cada um por si”. A polarização política tem se mostrado um jogo estratégico, onde quem realmente sai ganhando é o Centrão, que profissionaliza a manipulação e as alianças temporárias nesta roleta insana que é o jogo político brasileiro.
Enquanto isso, a sociedade civil continua a vigiar seu futuro, na expectativa de que novas mobilizações possam restaurar algum grau de moralidade e responsabilidade nas esferas do poder.