Brasil, 18 de setembro de 2025
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Milei volta a intervir no câmbio na Argentina para conter desvalorização do peso

Após queda do peso e crise política, governo argentino realiza primeira intervenção no câmbio desde a adoção do regime flutuante

Nesta quarta-feira (17), o governo de Javier Milei realizou uma nova intervenção no câmbio na Argentina, vendendo US$ 53 milhões para tentar estabilizar o peso diante da forte desvalorização e do aumento da demanda por dólares no país. Essa foi a primeira ação direta do Banco Central desde a implementação do regime de câmbio flutuante, em abril, refletindo a deterioração da moeda local e a crise política recente.

Intervenção inédita desde o regime de câmbio flutuante

De acordo com o Banco Central da Argentina (BCRA), as reservas internacionais em dólar caíram US$ 98 milhões na semana passada, encerrando em US$ 3,977 bilhões. Antes da intervenção, o dólar no mercado atacadista atingiu 1.474,50 pesos, limite superior da banda cambial criada para limitar a valorização da moeda americana no país. No mercado varejista, o dólar fechou a R$ 1.485, chegando a R$ 1.490 em alguns bancos privados, segundo o jornal argentino Clarín.

A banda cambial, que limita a valorização do dólar, é ajustada diariamente com uma correção de 1% ao mês. Segundo o acordo com o FMI, quando a cotação ultrapassa o limite, o Banco Central pode vender reservas para conter a alta do dólar, como ocorreu na última quarta.

Razões por trás da volta à intervenção no câmbio

Crise econômica e perda de confiança

Apesar de medidas severas de ajuste fiscal terem reduzido a inflação acima de 200% ao ano, o governo Milei ainda enfrenta dificuldades para recuperar a confiança dos investidores e acumular reservas em dólares, essenciais para pagar dívidas e evitar uma maior desvalorização do peso. Desde a eliminação do “cepo” cambial, em abril, a moeda tem sofrido perdas significativas, dificultando a estabilidade econômica.

As reservas internacionais voltaram a cair e estão próximas de US$ 7 bilhões negativos, criando um círculo vicioso: com menos dólares disponíveis, a capacidade de intervenção do governo diminui, alimentando a desvalorização do peso. Essa situação eleva o custo das importações e aumenta a inflação, fortalecendo o apoio popular ao presidente, que tenta conter a pressão cambial.

Medidas restritivas e mudança de estratégia

O governo endureceu as regras para operações em moeda estrangeira, proibindo bancos de aumentar posições em câmbio à vista no fim do mês, tentativa de reduzir a demanda por dólares. Além disso, embora tenha elevado a taxa de juros básica, a estratégia mostrou-se insuficiente, levando Milei a recorrer à intervenção direta — uma mudança drástica na política econômica ultraliberal adotada até então.

Segundo analistas, essa intervenção representa uma “contenção de crise”, pois demonstra que o governo abandonou temporariamente sua intenção de deixar o mercado regular o câmbio e passa a atuar de forma mais heterodoxa para conter a desvalorização do peso.

Crise política e impacto eleitoral

O contexto político agravou a crise cambial. Em agosto, denúncias de corrupção envolvendo a irmã de Milei, Karina Milei, contribuíram para fragilizar o governo. Áudios vazados apontam que Karina e um subsecretário exigiram propina de indústrias farmacêuticas, o que aumentou a instabilidade política e prejudicou a reputação do governo perante investidores estrangeiros.

Além disso, as eleições provinciais de setembro mostraram um cenário desfavorável ao partido de Milei. Com 99% das urnas apuradas, o partido A Liberdade Avança obteve apenas 33,7% dos votos na província de Buenos Aires, frente a 47,3% do Peronismo, resultado que diminui a influência no Congresso e agrava a crise política e econômica.

Perspectivas para a economia argentina

Analistas avaliam que as ações de Milei revelam dificuldades em implementar sua agenda liberal, diante do cenário de crise, queda de reservas e disputas internas. A intervenção no câmbio, embora temporária, indica que o governo precisou adotar medidas mais heterodoxas para evitar uma desvalorização ainda maior do peso, que ameaça ampliar a inflação e dificultar a estabilidade econômica do país.

Especialistas destacam que, sem soluções duradouras para a crise fiscal e política, o risco de instabilidade cambial na Argentina permanece elevado, dificultando a retomada de investimentos estrangeiros e o fortalecimento da moeda local.

Fonte: G1

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