A queda de um helicóptero na região do Pico do Jaraguá, Zona Norte de São Paulo, em agosto de 2022, resultou na morte do piloto e do copiloto. Uma investigação detalhada realizada pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) revelou que a tragédia não foi provocada por falhas mecânicas, mas por uma combinação de fatores, incluindo condições meteorológicas adversas, planejamento inadequado e o uso de drogas pelo piloto.
Fatores que levaram ao acidente
O acidente ocorreu em 5 de agosto de 2022, quando o helicóptero Agusta 109-E, prefixo PP-JMA, decolou de São Paulo com destino a Extrema, Minas Gerais, onde buscaria o presidente do grupo XP, Guilherme Benchimol. Durante o trajeto, a aeronave colidiu com um morro na Serra da Cantareira, resultando na morte de ambos os ocupantes. O relatório do Cenipa, divulgado em 2 de setembro, classifica o acidente como um “voo controlado contra o terreno”, uma situação em que a aeronave, apesar de estar em condições normais de voo, colide com o solo por fatores externos.
Condições meteorológicas e planejamento inadequado
Durante a investigação, foi constatado que o helicóptero decolou com combustível suficiente e com o Certificado de Aeronavegabilidade válido. No entanto, o plano de voo não foi transmitido ao Controle de Tráfego Aéreo, e o copiloto não era funcionário registrado da empresa operadora do helicóptero. Além disso, a aeronave seguiu por rotas não regulamentadas em condições de visibilidade reduzida, aumentando o risco de um acidente.
Cinco minutos antes da colisão, o teto de nuvens era de apenas 300 pés (aproximadamente 90 metros), o que dificultou a navegação visual do piloto. O Cenipa ressalta que a combinação de nebulosidade, chuva e baixa luminosidade criaram uma condição extremamente desfavorável para o voo.
Uso de substâncias psicoativas
Um dos pontos mais alarmantes do relatório é a confirmação do uso de drogas e medicamentos psicoativos pelo piloto, que foi detectado em um exame toxicológico. Foram encontradas substâncias como cocaína, clonazepam, venlafaxina e zolpidem, todas potencialmente prejudiciais à capacidade de concentração e coordenação do piloto. O Cenipa afirma que o uso dessas substâncias pode ter comprometido a sua capacidade de realizar o voo de forma segura.
A investigação aponta que, além das drogas, o estado emocional do piloto, incluindo problemas pessoais e depressão, pode ter impactado suas decisões durante a operação.
Recomendações de segurança e consequências legais
O Cenipa recomenda que a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) promova a divulgação dos aprendizados obtidos a partir desta investigação, enfatizando a importância do cumprimento rigoroso das normas de segurança e planejamento de voo. A agência deve reforçar que voos visuais devem ser realizados apenas em condições meteorológicas favoráveis, além de alertar sobre os riscos do uso de substâncias psicoativas na aviação.
Por fim, o acidente é investigado sob a forma de homicídio culposo, mas o arquivamento do inquérito policial foi promovido por falta de evidências concretas que pudessem imputar responsabilidade criminal a alguém. A família do copiloto manifestou descontentamento em relação ao arquivamento, solicitando que a situação fosse reavaliada.
Com o foco na segurança, é essencial que os aprendizados deste trágico acidente sejam compartilhados na comunidade aeronáutica para evitar que erros semelhantes ocorram no futuro.
O relatório final do Cenipa teve como objetivo aprimorar a segurança na aviação e reiterar a necessidade de rigorosas práticas de segurança e treinamento para pilotos, assegurando que a tragédia não se repita.