Múmias são frequentemente associadas ao Egito, onde as mais antigas datam de cerca de 4.500 anos. No entanto, uma nova pesquisa revela que múmias muito mais antigas foram descobertas do outro lado do planeta, em áreas da China e do Sudeste Asiático. Essa descoberta pode mudar a forma como entendemos a história da mumificação e os rituais associados ao enterramento em diferentes culturas.
Descoberta surpreendente no Sudeste Asiático
Durante uma coletiva de imprensa, o Professor Peter Bellwood, coautor do estudo, destacou que a equipe encontrou diversos sítios arqueológicos no sul da China e no Sudeste Asiático que contêm sepultamentos humanos datados entre 4.000 e 14.000 anos. “Detectamos que muitos desses locais antigos possuem sepultamentos que nos mostram uma prática de mumificação desconhecida até agora fora do Egito,” afirmou Bellwood.
A pesquisa e os detalhes das sepulturas
Publicada na última segunda-feira na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, a pesquisa examinou 54 sepulturas pré-neolíticas de 11 sítios arqueológicos, com grande concentração de amostras originárias do Vietnã e da Região Autônoma Zhuang de Guangxi, na China. Amostras também foram coletadas em países como Filipinas, Laos, Tailândia, Malásia e Indonésia.
Os restos humanos encontrados apresentavam posturas encolhidas ou agachadas e frequentemente mostravam sinais de que foram submetidos a altos níveis de calor, possivelmente como parte de um processo de desidratação e mumificação. “Os achados confirmaram que muitos dos restos foram secos ao fogo antes do sepultamento,” revelou Bellwood.

Tradições ancestrais e sua importância
Os restos humanos pertencem a uma população original de caçadores-coletores que ocupou o Sudeste Asiático durante os tempos paleolíticos, segundo Bellwood. “Este povo continuou sua presença em regiões como Austrália e Nova Guiné ao longo da história,” completou.
Antes desta descoberta, as múmias mais conhecidas fora do Egito haviam sido encontradas em locais que hoje correspondem ao Peru e ao Chile, onde foram preparadas por um povo chamado Chinchorro há cerca de 7.000 anos. A revelação de múmias tão antigas na Ásia abre novas possibilidades para o entendimento das práticas funerárias humanas.

A repercussão entre especialistas
A pesquisa impressionou especialistas em Egiptologia, como a professora Salima Ikram, que, embora não tenha participado do estudo, comentou sobre a relevância do termo ‘mumificação’ em outros contextos culturais. “Esse termo agora é mais amplamente compreendido, e é interessante notar que a motivação é semelhante: a preservação do corpo,” disse Ikram.
O projeto teve início em 2017, fruto de uma conversa casual entre dois dos autores que cresceu para incluir 24 especialistas. Hsiao-chun Hung, um dos principais autores do estudo, comentou: “Temos reunido evidências ao longo de muitos anos. É como um trabalho de detetive — encontrando pequenas pistas, juntando-as e confiando cada vez mais na hipótese.”
Essas descobertas mudam não apenas o entendimento arqueológico, mas também fornecem novas perspectivas sobre como diferentes culturas práticas de mumificação e cuidados pós-morte ao longo da história. Com o avanço da pesquisa, novas revelações podem surgir, mudando ainda mais o que sabemos sobre os nossos ancestrais.