O Botafogo vive uma fase de incertezas que coloca em xeque o futuro de sua Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Após uma euforia inicial com a conquista da Libertadores e do título brasileiro de 2024, a crise interna na Eagle, empresa de John Textor, e a batalha judicial entre o empresário e seus sócios estão revelando os desafios por trás do projeto alvinegro. O estopim dessa turbulência ocorreu em 17 de julho, quando reuniões revelaram a ruptura de confiança entre Textor e os demais acionistas da Eagle. Embora o empresário insista na inexistência de disputa, os autos do processo jurídico têm exposto documentos que esmiúçam a operação da SAF.
Bastidores da crise na SAF alvinegra
A partir de documentos como atas de reuniões e correios eletrônicos, a reportagem de O GLOBO reconstituiu os últimos três anos do Botafogo, revelando como as decisões de Textor têm impactado sua gestão. O primeiro capítulo dessa narrativa destaca a situação do clube antes da SAF, o perfil e a trajetória de John Textor, além do papel da Matix, intermediária que facilitou os contactos iniciais. O Botafogo, que não conquistava um título nacional desde 1995, estava fadado a um rebaixamento em 2021, numa campanha marcada por dívidas exorbitantes e rendimento modesto.
Do rebaixamento ao renascimento
O rebaixamento ao terminar a Série A em 2021, após uma temporada de apenas quatro vitórias, simbolizava a crise que se alastrava fora de campo. O clube acumulava uma dívida que chegava a R$ 900 milhões, com uma diferença abismal na folha salarial em comparação a outros rivais. A recuperação começou de forma tímida, sob a liderança de Marcelo Chamusca, mas a real virada se deu com a chegada de Enderson Moreira e os desempenhos notáveis de Chay e Rafael Navarro. O caminho para a elite foi, portanto, traçado pela superação de um tímido elenco.
A transformação para a Sociedade Anônima
Com a aprovação da lei 14.193/2021 que regulamenta as SAFs, o Botafogo passou a se estruturar para a transição em busca de um novo modelo de gestão. Antes mesmo da formalização, o clube já planejava essa mudança desde 2019, impulsionando um plano de recuperação. A segurança jurídica proporcionada pela nova legislação acelerou o processo de buscar investidores, o que culminou na negociação com a Eagle Holdings, liderada por John Textor.
John Textor: de empresário a investidor esportivo
Textor, um empresário do setor de tecnologia, chegou ao Botafogo com a ambição de expandir sua rede de clubes, com planos que incluíam participações em outras equipes ao redor do mundo. Inicialmente, considerou investir no América-MG, mas viu na tradição e no potencial do Botafogo, que mantém uma rica história e uma torcida apaixonada. A negociação culminou em um compromisso de investimento de R$ 400 milhões em três anos, um valor que seria crucial para estabelecer a SAF.
Panorama atual e desafios legais
Depois de um início promissor, a relação entre Textor e os demais acionistas da Eagle se deteriorou, levando a um acúmulo de crises. A recente rescisão de contratos, acompanhada por ações judiciais, reflete uma instabilidade que poderá comprometer as promessas feitas aos torcedores. A Matix, que atuou como intermediária na negociação, agora enfrenta desafios legais em outras frentes, o que indica um clima turbulento dentro da gestão do clube.
À medida que os desdobramentos desta crise continuem a emergir, a torcida e os amantes do futebol acompanham ansiosamente o impacto que essas decisões terão sobre o futuro do Botafogo e sua trajetória no futebol nacional.
Com um legado rico, mas um atual cenário conturbado, o Botafogo está em uma encruzilhada que pode definir não apenas seu destino, mas também o futuro das SAFs no Brasil.