O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), reafirmou nesta quarta-feira a decisão de manter o sigilo sobre as informações relacionadas à entrada e saída de suspeitos de fraudes no INSS em gabinetes de senadores. Essa determinação, que já havia sido contestada pela Advocacia do Senado, intensificou a tensão entre os membros da CPI encarregada de investigar irregularidades no Instituto Nacional do Seguro Social. O debate se acirrou principalmente entre os integrantes da oposição e os governistas, que buscam esclarecer possíveis conexões entre parlamentares e atividades fraudulentas:
Tensão entre oposição e governo
A pressão inicial para liberação dos dados partiu de senadores da oposição, que desejavam acessar a lista de gabinetes que o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, frequentou nos últimos anos. No entanto, essa demanda ganhou o apoio de alguns senadores governistas. O objetivo seria comprovar, entre outras coisas, que membros da base aliada do ex-presidente Jair Bolsonaro mantiveram encontros com dirigentes de associações ligadas a descontos irregulares de aposentados e pensionistas antes de 2022.
Em resposta ao questionamento do senador Rogério Marinho (PL-RN), que solicitou a liberação dos dados sobre visitas ao Senado, Alcolumbre se mostrou inflexível, afirmando que não cederá a pressões de nenhum lado:
Decisão embasada na legalidade
Alcolumbre explicou seu posicionamento, citando uma fundamentação jurídica da Advocacia do Senado, que defende a proteção do sigilo das informações sobre os encontros. “A CPI já solicitou esses dados, e há uma decisão sobre a proteção dos mandatos. Mesmo que a situação seja delicada, estou comprometido com a Constituição e a inviolabilidade dos mandatos. Não abrirei mão da confidencialidade do mandato parlamentar”, justificou.
No mês passado, em uma reunião com o presidente da CPI, o senador Carlos Viana (Podemos-MG), Alcolumbre também se negou a abrir os dados ao afirmar que isso violaria o direito à intimidade e à vida privada dos parlamentares, bem como infringiria a imunidade parlamentar. Essa posição, no entanto, contradiz as expectativas de parlamentares da oposição, que argumentam que a transparência é essencial para recuperar a confiança do público na instituição.
Questões políticas subjacentes
Embora senadores como Weverton Rocha (PDT-MA) tenham reconhecido encontros com o Careca do INSS, a divulgação das informações poderia revelar um número maior de interações com membros da base governista, o que poderia provocar um desgaste significativo nas relações internas do Senado, segundo a oposição. Por outro lado, senadores da situação insistem que é crucial esclarecer se representantes de entidades como a Amar Brasil Clube de Benefício (ABCB) e a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec) foram recebidos em gabinetes de senadores oposicionistas durante a gestão de Bolsonaro.
Governistas também argumentam que a falta de transparência pode ocultar encontros de partidos centristas que consideram se distanciar do atual governo, como o PP e o União Brasil. Em meio a um cenário político tão tenso, a questão do sigilo sobre as visitas do Careca do INSS revela-se não apenas um ponto de discórdia administrativa, mas um indício de disputas mais amplas dentro do legislativo brasileiro, influenciando as alianças e a dinâmica no Senado.
A situação continua em desenvolvimento e reflete o quão complexos e interligados são os interesses políticos no Brasil, onde a busca pela transparência e a defesa da privacidade andam lado a lado em debates cruciais para a governança.