No dia 16 de setembro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) revelou a seleção de 11 projetos culturais que receberão um total de R$ 5 milhões através do edital Viva Pequena África. Esta iniciativa tem como objetivo apoiar a preservação e valorização da memória e herança africanas na região histórica do Rio de Janeiro, conhecida como Pequena África.
Os projetos vencedores
A seleção dos projetos foi baseada em seis critérios: relevância, impacto social, tradição e trajetória, maturidade organizacional, viabilidade técnica e poder de articulação. Dentre os selecionados, destacou-se a Casa Escrevivência, um espaço cultural da escritora Conceição Evaristo, que conquistou o primeiro lugar. A Casa abriga um acervo literário significativo e, segundo Evaristo, representa um importante patrimônio bibliográfico que se soma às memórias da música e da culinária na Pequena África.
“Estamos falando de um patrimônio escrito que sem sombra de dúvida se soma a outras memórias que estão implantadas na região como a memória da música, do samba, da culinária”, afirma Evaristo, que vê o edital como uma oportunidade para a finalização do seu projeto.
Propostas que valorizam a cultura afro-brasileira
O segundo lugar foi concedido ao projeto “Caminhos da Tia Ciata”, que promove saberes afro-brasileiros por meio de oficinas, rodas de conversa, culinária ancestral, samba e capoeira. De acordo com Gracy Mary Moreira, presidente da Casa de Tia Ciata, a proposta se estrutura em torno da memória da figura histórica que é Tia Ciata, essencial para a história do samba no Brasil. “Ao longo de doze meses, vamos realizar uma série de ações voltadas a escolas, comunidades e ao público geral”, explica Moreira.
O terceiro lugar foi para o Instituto Entre o Céu e a Favela, que atua há 13 anos no Morro da Providência. A instituição foca na capacitação profissional e na promoção de educação, esporte e cultura para os moradores da região. O projeto inclui um intercâmbio em Benin, na África, para membros da equipe e crianças de um grupo de teatro, enfatizando a importância de expandir os conhecimentos sobre a história da Pequena África. A fundadora do instituto, Cíntia Santana, ressalta que o projeto entrará em uma nova fase, com uma maior consciência histórica.
Outros projetos contemplados
Além dos premiados, foram selecionados outras iniciativas voltadas para a preservação da memória, qualificação profissional, promoção da educação e inclusão digital, todas recebendo apoios que variam entre R$ 308,7 mil e R$ 500 mil. O investimento do BNDES, juntamente com o apoio de hoje da Open Society Foundation, Ford Foundation, Instituto Ibirapitanga e Fundação Itaú, visa fortalecer a cultura afrodescendente na região.
As iniciativas selecionadas também receberão capacitação no aspecto da gestão, com um cronograma que inclui 16 encontros presenciais, abordando temas como administração, captação de recursos, comunicação e governança. Essa capacitação será fundamental para potencializar o impacto e a sustentabilidade dos projetos que buscam promover e preservar a rica herança afro-brasileira.
A importância histórica da Pequena África
A Pequena África é uma área significativa na zona portuária do Rio de Janeiro, reconhecida por abrigar o sítio arqueológico do Cais do Valongo, considerado um marco na história dos africanos no Brasil. Este espaço simboliza a luta e a resistência da população afrodescendente ao longo dos séculos, e projetos como os contemplados pelo edital Viva Pequena África são vitais para manter viva essa memória histórica.
A seleção dos projetos foi realizada pelo Consórcio Viva Pequena África, que compreende o Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), Diáspora.Black e Feira Preta, atuando em parceria para a gestão do edital. A ação do BNDES não só promove a cultura, mas também incentiva a transformação social por meio da valorização das identidades afro-brasileiras.


