Faleceu no dia 10 de setembro de 2025, em sua terra natal, a Bélgica, aos 69 anos de idade, Guido Convents, um antropólogo e historiador que se destacou na preservação da memória do cinema e na promoção do cinema africano. Seu legado é marcado pela publicação de livros sobre cinema em Moçambique e na República Democrática do Congo, bem como pela criação do Afrika Film Festival de Lovain. Convents dedicou sua vida a compartilhar seus conhecimentos e experiências através da Radio Vaticano, e agora é lembrado por suas contribuições significativas para a cultura cinematográfica africana.
Dulce Araújo, da Vatican News, relata que Guido nasceu em 10 de maio de 1956, em Lummen, na Bélgica. Durante muitos anos, ele foi responsável pelo Desk Cinema da SIGNIS, a Organização Católica Internacional de Comunicação, que participa de diversos festivais de cinema ao redor do mundo. O festival FESPCO, por exemplo, conta com um júri próprio que premia filmes que priorizam valores humanos, espirituais e cristãos.
Da OCIC à Signis sempre acompanhando o cinema africano
Guido Convents se aproximou do cinema africano ainda na década de 1960, durante seu trabalho na OCIC (Organização Católica Internacional de Cinema), precursora da SIGNIS. Sua pesquisa se concentrava em como o cinema colonial retratava o continente africano. Essa intensidade e dedicação estão refletidas em sua obra monumental, “Imagem e Democracia: Os Congoleses face ao cinema e ao audiovisual. Uma história politico-cultural do Congo, dos Belgas até à República Democrática do Congo (1896-2006)“, publicada em 2006, que apresenta quase 500 páginas de análise e reflexão.
Outro trabalho notável é “Imagens & realidade. Os Moçambicanos perante o cinema e a audiovisual: uma história politico-cultural do Moçambique colonial até à República de Moçambique (1896-2010)“, publicado em 2011 pelas Edições Dockanema/Áfrika Film Festival, também refletindo sua profundidade analítica sobre o cinema africano.
Desvendar o passado, acompanhar o presente e entrever o futuro
A visão histórica de Convents estava profundamente enraizada na análise de como as potências coloniais representavam a África no cinema e no audiovisual, ao mesmo tempo em que buscava entender e acompanhar a evolução do cinema africano pós-independência. Ele acreditava que o cinema poderia ser um meio de emancipação cultural, permitindo que os africanos se apropriassem de suas próprias narrativas e imagens. Foi com essa crença que ele fundou o Afrika Film Festival de Lovain, com o intuito de ajudar os belgas a mudar suas visões estereotipadas sobre o continente.
Falta de política cinematográfica e de financiamento
Apesar de seu amor e dedicação pelo cinema africano, Guido frequentemente expressava sua preocupação com a falta de políticas de financiamento e apoio por parte de instituições africanas, como a União Africana. Ele estava convicto de que, com o apoio adequado, o cinema africano poderia florescer. Seu compromisso com a formação de jovens cineastas, especialmente dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), foi comprovado por seu contínuo envolvimento e suporte. Guido acreditava também que a tecnologia digital tornava o processo de criação cinematográfica mais acessível e menos custoso, abrindo novas possibilidades para os cineastas africanos. Ele teve um papel ativo no desenvolvimento do cinema em Ruanda, promovendo intercâmbios entre o Afrika Film Festival e o Mashariki African Film Festival de Kigali.
Um profissional sério e homem alegre
O legado que Guido Convents deixa é vasto e inclui uma crença inabalável no cinema como meio de comunicação. Ele era um profissional sério e comprometido, ao mesmo tempo em que mantinha uma atitude alegre em sua vida pessoal e em suas interações com os outros. Além das pesquisas e livros produzidos, sua visão de um mundo mais justo e equilibrado, com a contribuição do cinema, continua a inspirar cineastas e estudiosos em todo o mundo.
A morte de Guido Convents marca o fim de uma era, mas seu legado perdurará entre aqueles que acreditam na importância do cinema africano e na preservação de sua rica história. Sua visão e dedicação continuarão a guiar futuras gerações de cineastas em busca de contar suas histórias.