Erika McEntarfer, que foi demitida em agosto do cargo de comissária do Escritório de Estatísticas de Trabalho (BLS) dos Estados Unidos, afirmou que a sua exoneração ocorreu de surpresa e por motivos políticos. Sua demissão, pouco depois de divulgar dados considerados fracos pelo governo, gerou preocupação em Wall Street e Washington sobre a integridade dos dados econômicos do país.
Demissão súbita após divulgação de dados de emprego
McEntarfer relatou que a notificação oficial de sua saída chegou por e-mail da Casa Branca, com apenas duas frases, comunicando o encerramento imediato de seu mandato e agradecendo pelos serviços prestados. A economista revelou que, na manhã do dia da demissão, manteve um contato com a secretária do Trabalho para discutir uma revisão nos números de emprego, que indicava uma desaceleração no crescimento do setor.
“Não acreditei que tinha sido demitida”, disse ela, durante discurso no Bard College, sua alma mater. A surpresa foi ainda maior ao perceber uma mensagem na caixa de entrada enviada 20 minutos antes, na qual o Escritório de Pessoas da Casa Branca informava o término de seu mandato.
Críticas e controvérsia sobre os dados econômicos
A demissão ocorreu logo após a divulgação de dados de emprego considerados problemáticos pelo governo, que alegou que as revisões de números — focadas em ajustes mensais — poderiam ter sido manipuladas por motivos políticos. Trump, então presidente na época, publicou nas redes sociais que os números tinham sido alterados de forma a prejudicar sua administração, sem apresentar provas concretas.
Ao comentar o episódio, McEntarfer afirmou que não percebeu qualquer sinal de irregularidade antes da divulgação, mesmo tendo participado de briefings sobre o relatório de empregos. Ela ressaltou que, em sua avaliação, as revisões dos dados eram comuns e parte do procedimento técnico do órgão, que depende de informações adicionais coletadas ao longo do tempo.
Repercussões e contexto político
A decisão de demitir McEntarfer foi criticada por diversos setores, incluindo economistas e estatísticos, que enfatizam a importância da independência do BLS. A secretária do Trabalho, Lori Chavez-DeRemer, apoiou a decisão, afirmando que as revisões subsequentes mostraram-se concentradas em aspectos específicos da economia, como ajuste sazonal e educação.
Desde a saída de McEntarfer, o Departamento do Trabalho revisou novamente os dados de emprego, recebendo duras críticas da Casa Branca, que chamou as revisões de “uma falha na longa história de imprecisões do órgão”. Especialistas continuam argumentando que revisões são rotineiras e necessárias para maior precisão, apesar de questionamentos sobre as limitações orçamentárias e de pessoal enfrentadas pela agência.
Implicações para a independência do órgão
McEntarfer declarou que sua demissão representou um “passo perigoso” e uma tentativa de deslegitimar o trabalho técnico do BLS, o que ela considera um ataque à autonomia da instituição e, por consequência, à estabilidade econômica do país. Sua saída reacendeu debates sobre a influência política na produção de dados econômicos essenciais para a tomada de decisão.
Próximos passos e repercussões
Ela foi indicada ao cargo pelo presidente Joe Biden, com apoio bipartidário no Senado, e possui vasta experiência no governo federal. A nomeação de seu sucessor, EJ Antoni, promovido pela Casa Branca, também tem sido alvo de críticas, devido à sua posição pró-MAGA e à falta de experiência reconhecida para a função.
A Casa Branca e o Departamento do Trabalho não comentaram oficialmente sobre as declarações de McEntarfer. As controvérsias levantadas evidenciam a tensão entre autonomia técnica e interesses políticos na gestão de dados econômicos nos Estados Unidos.