Após a condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, aliados do ex-presidente intensificaram a mobilização para votar uma proposta de anistia. No entanto, essa ideia enfrenta diversos obstáculos políticos, e a perspectiva de um “perdão amplo” parece distante. Informações de pessoas próximas ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), indicam que a anistia se tornou um tema impopular e mal visto na sociedade. Esses interlocutores avaliam que não há votos suficientes para um tipo de “liberou gerou”, mas uma alternativa que mantenha a inelegibilidade de Bolsonaro tem mais chances de prosperar entre deputados e senadores.
Reunião entre Lula e Hugo Motta: um recado claro
Na segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva almoçou com Motta no Palácio da Alvorada, onde reafirmou sua posição para que a Câmara não avance com o projeto de anistia. Nos últimos dias, Motta também expressou sua intenção de evitar um confronto com o Supremo Tribunal Federal (STF), que considera o perdão total inconstitucional. Esta situação evidencia a tensão entre diferentes esferas de poder, especialmente em um período em que a confiança pública na política é crítica.
A proposta de redução de penas
Enquanto isso, na Casa ao lado, o presidente Davi Alcolumbre (União-AP) discute um projeto que altera o Código Penal para reduzir penas de envolvidos nos fatos de 8 de janeiro, o que também se refere à tentativa de golpe. Este projeto se concentra nos crimes de tentativa de golpe e abolição do Estado Democrático de Direito. Em meio a essa discussão, bolsonaristas enfrentam um clima de mal-estar interno desde que Valdemar Costa Neto, presidente do PL, reconheceu a tentativa de golpe. Após a repercussão negativa, ele voltou atrás e negou sua declaração.
Dificuldades na aprovação da anistia
Apesar dos esforços, dirigentes do PL já sinalizaram que Motta resiste à ideia de uma anistia ampla. Ele frequentemente diz que o clima na Câmara não favorece essa proposta. Um interlocutor próximo ao parlamentar ressaltou que o objetivo é “pacificar o país”, mas isso não pode acontecer através de uma anistia irrestrita. Na esfera governista, há quem defenda que a proposta de anistia seja pautada urgentemente, apenas para ser derrotada de uma vez. O líder do PT, Lindbergh Farias (PT-RJ), acredita que a oposição precisará de 257 votos para aprovar a ideia, o que, segundo ele, é difícil: “Hoje a realidade é esta. Se mudar, vamos derrotar no voto”.
Opinião pública contra a anistia
De acordo com pesquisa Datafolha, mais da metade da população brasileira se opõe à aprovação de uma anistia que favoreça Bolsonaro: 54% rejeitam a ideia, enquanto apenas 39% a apoiam. Essa percepção negativa sobre a anistia tem impactos diretos nas ações políticas, pois muitos governadores e parlamentares temem que a proposta desgaste suas imagens e comprometa suas bases eleitorais.
Alternativas em discussão
Se a anistia não avançar, outras estratégias estão sendo consideradas, como a reapresentação da PEC da Blindagem, que visa limitar investigações contra congressistas. Essa é uma forma de os integrantes da Câmara comunicarem ao Judiciário que não desejam ser alvos de investigações envolvendo suspeitas de desvio de emendas. Além disso, na semana passada, Motta e Alcolumbre discutiram alternativas que ignoram as questões envolvendo Bolsonaro e focam na redução de penas para manifestantes do 8 de janeiro. Interlocutores do governo já sinalizam que o Planalto não se oporá a essa iniciativa, desde que haja consenso entre o Congresso e o STF.
Impacto das declarações de Valdemar Costa Neto
A fala de Valdemar sobre a tentativa de golpe inflacionou ânimos entre os bolsonaristas e gerou reações diversas. Ele afirmou que houve um planejamento, mas que isso não se concretizou em um golpe. “No Brasil, se você planejar um assassinato, mas não fizer nada, isso não é crime”, declarou Valdemar. Após a onda de críticas, ele se retratou, afirmando que sua declaração foi mal interpretada.
Essa nova fase nas articulações políticas, marcada por tensões tanto internas quanto externas, refletirá não apenas a situação de Bolsonaro, mas também o futuro da política brasileira. À medida que a Câmara se aprofunda nas discussões em torno da anistia, a pressão popular e as dinâmicas de poder continuarão a moldar o cenário político no Brasil.