A liturgia deste domingo, que celebra a Exaltação da Santa Cruz, nos apresenta um convite à reflexão profunda sobre o significado do mistério da cruz de Cristo. A cruz, que inicialmente era vista como um símbolo de suplício e maldição, ao ser elevada por Jesus, transforma-se no sinal supremo de amor e redenção divina.
A cruz: de maldição a sinal de amor
Segundo o Cardeal Paulo Cezar Costa, Arcebispo Metropolitano de Brasília, a cruz, associada a ladrões e inimigos do império na época de Jesus, era vista pela teologia judaica como uma maldição. De acordo com Deuteronômio 21, 21-22, todo aquele que fosse suspenso no madeiro era amaldiçoado por Deus. Com o tempo, essa concepção se estendeu aos crucificados, apresentando um profundo contraste com a vinda de Cristo ao mundo.
No Evangelho de João (Jo 3,13-17), encontramos uma releitura deste conceito através da narrativa de Moisés e a serpente levantada no deserto, onde a verdadeira salvação é revelada não na serpente, mas no Filho do Homem crucificado. A passagem enfatiza que, assim como Moisés levantou a serpente, Jesus também seria levantado para que todos os que nele crerem possam ter vida eterna. Essa conexão reforça que a crucificação e a ressurreição de Jesus constituem o coração da fé cristã.
A salvação e a fé
Bela é a afirmação de que a salvação trazida por Jesus se torna realidade através da fé e do batismo. Aceitar Jesus crucificado e ressuscitado é garantir a vida eterna, que se traduz em uma comunhão plena com Deus. Santo Agostinho, em suas reflexões, destaca que, ao nos unirmos a Deus, a dor e a tristeza não terão mais lugar em nossa existência. O amor de Deus se revela na entrega de seu Filho, pois “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
A ação amorosa de Deus
Essa entrega não é apenas um ato de amor, mas uma demonstração da natureza de Deus. “Deus é Amor” (1Jo 4,16) sintetiza a essência divina, que se manifesta na doação do Filho pela humanidade. Essa ação de amor, ao ser compreendida, transforma a percepção da cruz, que, embora mantenha sua tragédia, torna-se um símbolo de salvação.
A cruz como critério de amor
A Exaltação da Santa Cruz nos impulsiona a perceber que o cristianismo está intrinsecamente ligado à cruz. Para seguir Jesus, é necessário também carregar a própria cruz, reconhecendo que as dificuldades e padecimentos da vida podem revelar o amor de Deus. Dessa forma, a cruz deixa de ser um elemento de horror para se transformar em um instrumento de redenção e esperança.
O apelo para que celebremos a exaltação da cruz nos convida a refletir sobre o nosso compromisso cristão: amar como Jesus amou, mesmo diante das adversidades. Acelebração não é apenas uma recordação, mas um chamado à ação, que nos incentiva a viver o Evangelho em nossos relacionamentos e na sociedade em geral.