No Brasil, a história de dois adolescentes afegãos, primos e refugiados, se destaca em meio a uma situação alarmante que envolve burocracia e a difícil busca pelo reencontro familiar. Com a recente alteração nas diretrizes de acolhimento para afegãos, muitos jovens que chegaram ao país em busca de segurança e proteção se encontram em um impasse emocional e existencial.
Adolescentes afegãos em abrigo
Os dois jovens, ambos de 17 anos, vivem em um abrigo no estado de São Paulo e aguardam há quase dois anos a oportunidade de rever suas famílias. Eles chegaram ao Brasil sozinhos em 2023, fugindo do cenário de violência e crise humanitária no Afeganistão. Seus pais conseguiram deixar o país, mas se refugiaram no Irã, onde enfrentam dificuldades crescentes e não conseguem seguir para o Brasil devido a entraves burocráticos.
Segundo a Defensoria Pública da União (DPU), que acompanha o caso, tanto os adolescentes quanto seus familiares estão lidando com a angústia da separação. Relatos indicam que os meninos apresentam sinais de abalo emocional em relação à incerteza do reencontro.
Famílias separadas por barreiras burocráticas
Os adolescentes, que mantêm contato com seus parentes através de celular e computadores sempre que as condições de segurança e conectividade permitem, estão conscientes das dificuldades de suas famílias. Os pais, atualmente em Isfahan, Irã, enfrentam uma severa repressão da polícia e não têm permissão para trabalhar, aumentando o risco de expulsão. O primo do primeiro adolescente expressa o desejo de trazer sua mãe, destacando o impacto emocional que a ausência familiar causa na saúde mental dos jovens.
De acordo com a DPU, a situação se agravou com a nova portaria do Ministério das Relações Exteriores, que endureceu as regras para concessão de vistos humanitários. Agora, é exigido que os familiares apresentem uma carta convite de entidades da sociedade civil para conseguir o visto, o que não é viável para os pais dos meninos, resultando na negativa dos pedidos de acolhimento.
A saúde mental em risco
O defensor público federal Murillo Ribeiro Martins enfatiza que a recusa do governo tem consequências diretas sobre a saúde mental dos jovens. Ele revela que um deles chegou a apresentar sintomas de depressão devido à incerteza em relação ao reencontro. Apesar do abrigo oferecer infraestrutura mínima, como alimentação e educação, a falta da presença dos familiares torna a situação ainda mais desafiadora para eles.
Dados alarmantes de migração
Os dados do Unicef revelam a gravidade da situação: a migração de crianças desacompanhadas na América Latina e no Caribe alcançou níveis recordes em 2023. No Brasil, mais de 300 crianças e adolescentes chegaram sozinhos a cada mês no ano passado, em função de perseguições, guerras ou fome. O direito ao reencontro familiar é considerado prioridade na proteção de menores migrantes, segundo um guia elaborado pela agência da ONU.
Esperanças e sonhos de um futuro melhor
Enquanto aguardam uma solução sobre os vistos, os dois adolescentes tentam viver suas vidas cotidiana. Eles frequentam a escola, sonham em se tornar jogadores de futebol ou chefs de cozinha, e se sentem acolhidos em solo brasileiro. Uma das mensagens mais tocantes veio da mãe de um dos adolescentes, que deseja que seus filhos possam retornar a se reunir com suas famílias, afirmando: “Escolhemos o Brasil porque é um país acolhedor, e as pessoas são muito gentis”.
Em um cenário repleto de incertezas, a história desses jovens nos lembra da força do vínculo familiar, e do árduo caminho que muitos trabalhadores têm que percorrer para alcançar segurança e estabilidade, não apenas para si, mas também para suas famílias. Enquanto as políticas públicas não se adaptam à nova realidade que os afegãos enfrentam, muitos continuarão esperando pela possibilidade de reencontro e pela chance de um futuro melhor.
O caso desses adolescentes é um alerta para a importância de políticas que garantam a proteção e a reunificação familiar para crianças e adolescentes refugiados. A necessidade de reformas se torna evidente, pois sem elas, mais histórias como a deles continuarão a se desenrolar, marcadas pela saudade e pela luta por um reencontro.