O governo argentino permitiu que o peso se enfraquecesse nesta semana, enquanto tomou medidas para evitar uma fuga massiva de dólares que pudesse reacender a inflação, segundo análises de mercado. Parlamentares também enfrentam desafios para estabilizar a moeda e a economia do país.
Medidas argentinas: manipulação cambial e intervenções do Banco Central
Após gastar cerca de US$ 100 milhões por dia na semana passada com o objetivo de segurar a queda do peso, o Tesouro reduziu drasticamente as vendas de dólares, deixando o dólar subir até o limite superior da banda cambial. Seguindo essa estratégia, o Banco Central entrou em ação vendendo contratos de dólar overnight e retomando a venda de contratos futuros, além de usar operações de recompra para absorver recursos usados por investidores.
Desafios e limitações do governo argentino
Apesar dessas ações, o governo argentino dispõe de pouco espaço de manobra. Segundo analistas, o estoque de contratos de câmbio futuros aproxima-se do limite legal de US$ 9 bilhões, enquanto os depósitos em dólares do Tesouro caíram para menos de US$ 1,1 bilhão, restringindo sua capacidade de intervenção direta. O ministro da Economia, Luis Caputo, afirmou que as autoridades não realizaram intervenções significativas após o normalização do mercado, embora o dólar continue pressionado.
Repercussões econômicas e sinais de instabilidade
O dólar saltou 4% na segunda-feira e permaneceu em alta, fechando em R$ 5,35, menor patamar em 13 meses, porém com valorização de 6,1% na semana. Os títulos soberanos também recuaram e a volatilidade do peso aumentou diante do risco de uma crise cambial mais aguda, especialmente com as próximas eleições legislativas de outubro, que representam uma ameaça ao projeto reformista de Milei.
Perspectivas e incertezas futuras
Especialistas alertam que a liquidez no mercado de câmbio está próxima do limite e a possibilidade de novas vendas grandes de dólares nas próximas semanas é considerada alta. O presidente do Banco Central, Santiago Bausili, afirmou que a política cambial será mantida, com o peso seguindo uma banda de flutuação, enquanto o mercado monitora os desdobramentos eleitorais e políticos.
Por sua vez, alguns analistas indicam que o ambiente eleitoral e a perda de confiança na moeda podem levar a uma maior volatilidade, com riscos de influxo de recursos dolarizados e tentativas de depreciação controlada para conter a curva inflacionária.
Contexto político e crise de confiança
Após a derrota de Milei na eleição de Buenos Aires, o mercado de ações e títulos argentinos reagiu de forma negativa, aumentando as incertezas sobre o futuro econômico do país. A instabilidade política e suspeitas de corrupção envolvendo aliados do candidato também contribuíram para a recuperação parcial dos títulos, embora o cenário geral permaneça instável.
Segundo análises, o fortalecimento de setores políticos tradicionais e a manutenção do controle cambial podem ser estratégias de curto prazo, mas a crise de confiança e uma eventual reavaliação do risco país seguirão influenciando a cotação do peso e os investimentos estrangeiros no país.
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