O novo Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), uma iniciativa conjunta de 12 países, pretende gerar a maior parte de sua renda investindo em mercados de países emergentes. A proposta, apresentada nesta semana com detalhes durante coletiva do governo federal, busca promover a preservação de florestas por meio de investimentos financeiros, e não por doações, visando uma abordagem mais sustentável.
Investimentos em mercados emergentes e retorno financeiro
Segundo João Paulo Resende, vice-secretário do Ministério da Fazenda, o fundo funcionará como um banco de operações tradicionais, mas com lucro revertido em favor das florestas. “Nosso objetivo é investir o máximo possível em mercados do mundo emergente, priorizando títulos de governos e empresas com selo ambiental”, explicou. O fundo pretende levantar US$ 125 bilhões, gerando uma renda anual de cerca de US$ 4 bilhões, o que equivale a aproximadamente US$ 4 por hectare de floresta preservada, por ano.
Modelo inovador de financiamento
O projeto difere do Fundo Amazônia ao não premiar países apenas por reduções no desmatamento e, sim, por manterem suas florestas intactas. Inspirado em mecanismos de fundos de endowment, o dinheiro será investido em mercados financeiros, com retorno repartido entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, que são os beneficiários finais. Segundo Resende, o fundo terá mecanismos de proteção, como suspensão de repasses em situações de crise financeira, garantindo sua sustentabilidade a longo prazo.
Impacto e benefícios sociais e ambientais
Além de estimular a economia verde, o TFFF contempla cláusulas de apoio a povos indígenas e comunidades tradicionais, com a obrigação de repassar 20% dos recursos recebidos a esses grupos nas regiões beneficiadas. Francisco Filippo, assessor do Ministério dos Povos Indígenas, ressaltou a importância dessa medida, destacando que esses povos desempenham papel fundamental na proteção da floresta e que uma maior proteção financeira ajuda a fortalecer essa luta.
O fundo pretende também impulsionar a fiscalização contra o desmatamento, ao oferecer um incentivo financeiro maior ao Brasil — que poderia ter um ganho de até três ou quatro vezes o orçamento do Ministério do Meio Ambiente, caso implemente políticas eficazes de controle e monitoramento.
Perspectivas para a implementação e riscos do fundo
Apesar do otimismo, especialistas apontam que o fundo enfrenta riscos típicos do mercado financeiro, como flutuações de ativos. Resende explicou que, em uma simulação de crise, países beneficiados poderiam perder em média 4% dos repasses, enquanto os investidores perderiam cerca de 1%, números considerados aceitáveis diante de outros fundos de investimento. O fundo prevê mecanismos de estabilização, como suspensão temporária de pagamentos, em situações extremas.
Durante a coletiva, Marina Silva destacou que o TFFF representa uma inovação ao trazer recursos financeiros que ainda não estavam na mesa da preservação florestal, podendo complementar ações de proteção que, hoje, têm foco mais filantrópico ou assistencial.
Próximos passos e expectativa de implementação
O governo pretende finalizar os detalhes do fundo até a COP30, marcada para novembro em Belém, com o objetivo de ativar seus recursos já na conferência. Uma reunião na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, também está programada para 23 de setembro, na tentativa de ampliar a participação de novos países na iniciativa. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a ideia é envolver mais nações e consolidar o fundo como uma alternativa viável de financiamento sustentável para a conservação das florestas tropicais.
Autoridades afirmam que os riscos para os investidores serão mínimos no longo prazo, com uma estratégia voltada a amortizar possíveis oscilações de mercado. Assim, o projeto busca trazer uma nova lógica para a conservação florestal, apoiada na lógica do mercado financeiro, com potencial de gerar recursos significativos para países com biomas estratégicos.
Mais informações sobre a proposta podem ser acompanhadas neste link externo.