Brasil, 12 de setembro de 2025
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Estudantes questionam presença de clássicos na literatura escolar na Alemanha

Alunos na Alemanha pedem uma literatura mais relevante e diversa nas escolas, refletindo a realidade contemporânea da sociedade.

O novo ano letivo começou na Alemanha e os alunos do Ensino Médio já estão se deparando com clássicos da literatura, como obras de Johann Wolfgang von Goethe e Heinrich von Kleist. No entanto, essa escolha literária não agrada a todos. Orçun Ilter, um estudante de Berlim, afirmou que “honestamente, não foi o livro mais emocionante” ao se referir a “O Jarro Quebrado” de Kleist. O jovem, que nos seus momentos livres lê obras do autor Tahsim Durgun, expressou a falta de vozes contemporâneas na literatura escolar.

De acordo com estudos, apenas 20% dos livros da lista de leitura obrigatória para o diploma de ensino médio, o Abitur, foram escritos por mulheres. Autores de origem imigrante e pessoas negras são ainda mais escassos. Esse fato é alarmante considerando que mais de 25% da população alemã, superior a 80 milhões de habitantes, possui um fundo imigrante, percentagem que sobe para 55% entre crianças e jovens em áreas urbanas. No distrito de Neukölln, este índice chega a mais de 70%.

A falta de diversidade nos currículos literários

Na Alemanha, a política educacional é definida em nível estatal, o que dá uma considerável autonomia às escolas na escolha dos textos. Porém, a maioria das escolas ainda se alinha ao quadro de exames estabelecido pelo Instituto de Desenvolvimento da Qualidade na Educação (IQB), o que limita a flexibilidade diante da escassez de recursos temporais e financeiros. Essa realidade revela um entusiasmo contínuo por clássicos de autores brancos e homens ao longo dos anos, suprimindo textos que poderiam refletir melhor a diversidade cultural da sociedade atual.

A Secretaria de Educação de Berlim e do estado vizinho de Brandemburgo está tomando iniciativas para corrigir esse desequilíbrio, incluindo pelo menos um texto contemporâneo escrito por autoras mulheres. Além disso, formadores especializados em literatura infanto-juvenil trabalham com professores para trazer uma seleção mais moderna e inclusiva de livros para as salas de aula.

Os estudantes desejam relevância nas leituras

Quentin Gärtner, um estudante de 18 anos que acaba de se formar no ensino médio, acredita que é urgente mudar a forma como a literatura é ensinada. Ele destaca que “as aulas de literatura estão falhando em atingir os jovens”, o que torna difícil para eles se interessarem pelas obras que se propõem a estudar. Gärtner defende que o sistema educacional precisa de urgentes reformas, dizendo que as escolas “precisam de menos Faust e queima de bruxas, e mais habilidades em IA e educação sobre democracia”.

Durante seu Abitur, Gärtner teve contato com textos diversos, incluindo “Woyzeck” de Georg Büchner e “O Homem da Areia” de E. T. A. Hoffmann, além do romance distópico “A Método” da escritora Juli Zeh. Ele expressou o desejo de que sua classe tivesse lido mais obras contemporâneas e diversificadas que oferecessem conteúdos “interessantes e relevantes para suas vidas”. Gärtner constatou que muitos estudantes apreciariam textos de Goethe se as abordagens ao material fossem mais instigantes, mas isso exigiria uma reforma ampla no sistema educacional fragmentado da Alemanha.

Com uma desaceleração na participação dos jovens nas eleições, Gärtner ressalta que a geração de jovens é frequentemente ignorada pelos políticos, que buscam eleitores mais velhos. Essa realidade reforça a ideia de que a educação deve estar alinhada com a realidade e as necessidades dos estudantes, enfatizando a necessidade de um espaço para a voz jovem no que se refere às leituras escolares.

O fenômeno ‘BookTok’ e o renascimento da leitura entre jovens

Os resultados do estudo PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study) de 2021 mostram que um em cada quatro alunos de quarta série na Alemanha não alcança o nível mínimo de habilidades de compreensão de leitura. Além disso, os adolescentes de 15 anos obtiveram suas notas mais baixas no estudo PISA de 2023. Contudo, não é tudo desanimador. Dados recentes mostram que as comunidades nas redes sociais, como o #BookTok, ajudaram a criar uma nova geração de leitores entusiasmados.

Susanne Lin-Klitzing, ex-professora e presidente da Associação dos Filólogos Alemães, acredita que há um apetite por literatura entre os jovens, que precisam ser ouvidos nas decisões sobre as leituras obrigatórias nas escolas. “É essencial ter um corpo de textos mais representativo, não apenas obras de ‘velhos brancos’. Isso ajudaria a valorizar as experiências e perspectivas de mulheres e de pessoas com raízes fora da Alemanha. Mas também é crucial escolher uma diversidade de gêneros literários de alta qualidade e relevância, independentemente do autor”, afirmou.

Lin-Klitzing enfatiza que os alunos devem ler pelo menos um clássico e uma obra contemporânea escolhida em consulta com a classe, para que a educação literária se torne mais conectada à realidade e às vivências dos alunos. O ensino de clássicos, como “Fausto” ou “Antígona”, serve não só para compreender o passado, mas também para discutir criticamente as estruturas de poder que ainda imperam na sociedade. “Precisamos aprender a entender e diferenciar”, conclui.

Editado por Rina Goldenberg

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