O cenário político brasileiro ganha mais um capítulo tenso com a solicitação do deputado Kim Kataguiri (União-SP), que apresentou um requerimento para convocar o senador Weverton Rocha (PDT-MA) para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Esse pedido surge em meio a desdobramentos da Operação Sem Desconto, que desmantelou um esquema que, segundo as investigações, operava com entidades de fachada e sindicatos fantasmas, causando um rombo estimado de R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.
Investigações revelam vínculos políticos
No requerimento protocolado por Kataguiri, o deputado argumenta que as investigações da CPI revelam não apenas a ação de organizações fraudulentas, mas também a possibilidade de vínculos políticos que poderiam ter proporcionado proteção ao esquema. A acusação levanta preocupações sobre a relação entre o senador Weverton Rocha e Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, preso recentemente pela Polícia Federal e apontado como um dos principais articuladores do esquema de fraudes.
O senador, por sua vez, não esconde sua indignação com o requerimento de Kim Kataguiri. Em declarações ao GLOBO, ele classificou a ação como uma tentativa de criar narrativas e afirmou não acreditar que a solicitação será pautada. Weverton, que está sob o olhar atento da CPI, destacou que já tomou providências legais contra o deputado por difamação.
Encontros questionáveis
Antônio Carlos Camilo Antunes era uma figura notória nos círculos políticos de Brasília. Ele manteve contato com o senador Weverton, o que levanta questões sobre a seriedade das interações entre eles. Os encontros, que variam desde reuniões em gabinetes até um churrasco no endereço do senador, foram confirmados por pessoas próximas e pela assessoria de Weverton. O senador comentou sobre o assunto, afirmando que conheceu Antunes em um “costelão” onde este se apresentou como empresário do setor farmacêutico.
Além disso, o senador também revelou que recebeu Antunes em seu gabinete no Senado algumas vezes para discutir a legalização da importação de produtos à base de cannabis para fins medicinais. Apesar de não estar sendo investigado, Weverton está entre os vice-líderes do governo no Senado, uma posição que pode aumentar a pressão sobre seus atos.
A importância da convocação
Kim Kataguiri enfatizou que a convocação de Weverton Rocha não deve ser interpretada como uma tentativa de perseguição política, mas sim como uma oportunidade para que o senador apresente sua versão dos fatos em um ambiente legal e formal. O deputado sustentou que a presença de Weverton na CPI é vital para elucidar os contatos com Antunes e outros dirigentes que estão sendo investigados, considerando também que o atual secretário-executivo do Ministério da Previdência foi chefe de gabinete do senador.
Vale destacar que, para que a convocação aconteça, o requerimento de Kataguiri deve ser pautado pelo presidente da CPI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), e aprovado pela maioria do colegiado. A expectativa é que esse processo se desenrole em meio a um clima de crescente tensão política.
Desdobramentos da Operação Sem Desconto
O escândalo do INSS tomou novos rumos com a prisão de Antunes, um resultado direto das investigações da Operação Sem Desconto. A ação, que contou com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), apura um esquema de fraudes que causou prejuízos imensos a aposentados e pensionistas. De acordo com informações, a Polícia Federal identificou risco de fuga e indícios de ocultação patrimonial por parte dos envolvidos.
As apurações indicam que os suspeitos cometeram crimes diversos, incluindo obstrução de justiça e a obstrução da investigação de organizações criminosas, além de ocultação de patrimônio. Ao todo, estão sendo cumpridos mandados de prisão e busca e apreensão em vários estados, ampliando a complexidade da situação.
Após sua detenção, Antônio Carlos Camilo Antunes foi transferido para a Superintendência da PF em Brasília. A investigação revela que ele movimentou R$ 9,3 milhões em repasses destinados a pessoas ligadas a servidores do INSS, entre 2023 e 2024. A defesa de Antunes ainda não se manifestou oficialmente a respeito das acusações.
À medida que os desdobramentos desse caso avançam, o cenário político se molda com novas oportunidades e desafios, evidenciando a necessidade de uma maior transparência e rigor nas investigações para combater a corrupção e proteger os direitos dos cidadãos.