Em meio a um cenário de intensos debates sobre a segurança das vacinas, autoridades da Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos estão preparando uma apresentação onde apontam um possível vínculo entre a vacina contra a Covid-19 e a morte de 25 crianças. Este tema será discutido em uma reunião do Comitê Consultivo sobre Práticas de Imunização (ACIP) da Centers for Disease Control and Prevention (CDC), marcada para a próxima semana, conforme confirmou uma fonte ao NBC News.
A controvérsia em torno dos dados da vacina
De acordo com informações do Washington Post, a FDA baseia suas alegações em uma análise de dados do Sistema de Notificação de Eventos Adversos de Vacinas (VAERS), um banco de dados que permite que qualquer pessoa, seja um médico ou um cuidador, reporte reações que acredita estarem ligadas a vacinas. Contudo, especialistas questionam a validade dessa análise, já que os dados do VAERS são não verificados e não podem estabelecer uma relação de causalidade entre a vacinação e as mortes de crianças.
Dorit Reiss, especialista em política vacinal da Universidade da Califórnia, avaliou que relatos do VAERS não são suficientes para confirmar a ligação entre vacinas e eventos adversos. “Para identificar a causalidade de uma vacina, é necessário demonstrar que a causa da morte foi algo que a vacina provocou”, explicou Reiss. Ela enfatiza que relatos isolados não substituem a necessidade de estudos mais amplos que comparem a incidência de danos com ou sem a vacina.
A resposta do FDA e a visão de especialistas
Um porta-voz do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, Andrew Nixon, ressaltou que a análise do VAERS e outros dados de segurança são revisados regularmente e apresentados ao público por meio do processo estabelecido do ACIP. “Essas revisões são parte do nosso compromisso com a transparência”, afirmou Nixon.
Contudo, a discussão se intensifica, pois a comissão do FDA tem recebido críticas por fazer uso inadequado desses dados. Ex-funcionários da FDA, que preferiram manter sua identidade em sigilo, expressaram preocupações, afirmando que não encontraram evidências concretas de que as vacinas causaram mortes.
Pesquisas sobre a segurança das vacinas contra Covid
Embora a apresentação da FDA tenha gerado controvérsia, numerosos estudos têm mostrado que as vacinas contra Covid são seguras para crianças e eficazes na redução do risco de hospitalização e morte. Uma análise recente publicada na JAMA Pediatrics revisou 17 estudos envolvendo mais de 10 milhões de crianças entre 5 e 11 anos, demonstrando que as vacinas com a tecnologia mRNA da Pfizer e Moderna significativamente reduzem esses riscos.
Outro estudo publicado na Nature Communications em 2024 não encontrou aumento no risco de eventos adversos em crianças vacinadas, embora tenha notado um leve aumento no risco de miocardite em adolescentes do sexo masculino após as primeiras doses.
O papel dos ativistas anti-vacinas
Ativistas contrários às vacinas têm utilizado os dados do VAERS para argumentar que as vacinas são perigosas, apesar de que conclusões definitivas não podem ser tiradas apenas desses relatos. Robert F. Kennedy Jr., secretário de Saúde e Human Services, criticou o sistema de vigilância durante uma audiência no Senado, destacando que mais relatos foram feitos ao VAERS sobre vacinas Covid do que para todas as vacinas da história juntas.
Além disso, Kennedy tomou medidas para limitar o acesso às vacinas, promovendo a aprovação das injeções atualizadas apenas para pessoas com mais de 65 anos e aquelas com condições de saúde subjacentes. Essa abordagem tem gerado confusão entre pacientes e farmácias a respeito do acesso às vacinas.
À medida que os membros do ACIP, agora compostos majoritariamente por indivíduos escolhidos por Kennedy, se reúnem, suas recomendações poderão influenciar drasticamente o acesso às vacinas Covid. Uma nova presença importante no comitê é a do professor Retsef Levi, do MIT, que tem um histórico de declarações sobre os perigos das vacinas Covid.
Expectativas para a reunião do ACIP
As discussões na reunião do ACIP agendada para quinta e sexta-feira da próxima semana são esperadas com grande expectativa, especialmente considerando a influência que essas deliberações podem ter sobre as diretrizes de vacinação para crianças e jovens. Em um momento em que a saúde pública está continuamente desafiada por desinformação e debates polarizados, a forma como essas recomendações serão abordadas é crucial.
Enquanto isso, especialistas e defensores da saúde pública esperam que os dados sejam analisados com rigor e que a segurança das vacinas permaneça como uma prioridade, em meio a um ambiente de incertezas e desconfiança.