Campinas, SP – A cidade de Campinas está enfrentando um desafio significativo na educação, com a transferência de cerca de 800 alunos da escola municipal Padre Leão Vallerié para um prédio localizado a 27 km de distância. A medida foi tomada devido a reformas necessárias na escola, e embora a prefeitura tenha prometido repor as aulas perdidas, os estudantes estão enfrentando longas jornadas diárias de ônibus que superam os 50 km. A situação preocupa pais e educadores, que temem pelo impacto nas aulas e na qualidade do aprendizado.
Jornada desgastante de alunos
Desde a última segunda-feira (8), as crianças e adolescentes vêm enfrentando um trajeto de ônibus que ultrapassa 50 km por dia para chegar à nova escola. Essa distância, somada ao tempo perdido no trânsito, tem exigido muito dos estudantes, resultando em um desgaste físico e emocional considerável. O promotor Rodrigo Augusto de Oliveira, do Ministério Público (MP), avaliou a situação e instaurou um inquérito civil público para investigar os impactos educacionais dessa transferência.
Medidas adotadas pela prefeitura
Em uma reunião virtual com representantes da Secretaria de Educação, pais, Conselho Tutelar e vereadores, o promotor confirmou que as aulas perdidas serão repostas aos sábados, no próprio bairro que abriga a escola municipal. Embora essa medida tenha sido bem recebida, os detalhes de como isso será implementado ainda precisam ser divulgados.
Durante o encontro, foi destacado que a comunicação entre a escola e os pais deve ser aprimorada. O diretor da escola admitiu que houve falhas nesse aspecto, e um compromisso foi firmado para que os responsáveis possam visitar o Colégio Fitel, onde os alunos estão sendo acomodados temporariamente durante as reformas.
Visitas e melhorias para os pais
Uma visita está programada para a próxima quinta-feira (18), onde os pais acompanharão o trajeto de ônibus feito pelos alunos e poderão conhecer as novas instalações. Para aqueles que não puderem participar, outra visita será agendada em um sábado posterior.
O promotor ressaltou que, apesar das dificuldades enfrentadas pelos alunos, a prefeitura negou que as condições oferecidas na escola privada sejam inferiores às da escola pública. “Foi mencionado que há separação dos espaços entre manhã e tarde, assegurando que os alunos do Padre Leão Vallerié tenham acesso a uma infraestrutura adequada,” afirmou Rodrigo.
Desafios enfrentados no transporte
A questão do atraso nos ônibus e a infraestrutura do terminal de transporte também foram discutidas. O promotor enfatizou a importância de melhorias nesse aspecto, já que o desgaste dos alunos pode afetar seu desempenho acadêmico. Em resposta às preocupações levantadas, a prefeitura comprometeu-se a instalar bancos no terminal para proporcionar maior conforto aos estudantes enquanto aguardam o transporte.
Perspectiva educacional em risco
A professora Cristiane Machado, do Departamento de Políticas e Administração de Sistemas Educativos da Unicamp, alerta que as longas jornadas podem comprometer seriamente a aprendizagem dos estudantes do 1º ao 9º ano do ensino fundamental. “O tempo que o aluno passa efetivamente na escola é crucial para seu aprendizado. A reposição das aulas deve ser realizada de maneira estruturada, com suporte adequado para os pais,” afirma a educadora.
Ela acrescenta que a responsabilidade pela educação básica não deve ser transferida aos pais, que já enfrentam seu próprio conjunto de desafios. “Precisamos lembrar que a escola tem a obrigação de garantir que essas quatro horas diárias de ensino sejam efetivas e bem aproveitadas,” insistiu Cristiane.
Compromisso contínuo do MP
O inquérito civil do MP segue em andamento, com o promotor aguardando respostas da prefeitura dentro do prazo estipulado. O MP permanece aberto a novas denúncias e atento a informações sobre irregularidades que possam surgir. “Estamos aqui para fiscalizar e garantir que toda a comunidade escolar tenha os direitos preservados e que os alunos recebam a educação que merecem,” concluiu Rodrigo.
A situação em Campinas é um exemplo do delicado equilíbrio entre infraestrutura escolar e o direito à educação. A pressão contínua das famílias, combinada com a supervisão do Ministério Público, pode ser um caminho para assegurar que as condições educacionais na cidade sejam aprimoradas e atendam às necessidades de todos os estudantes.