Após um discurso inflamado na Avenida Paulista em 7 de setembro, no qual se referiu ao Supremo Tribunal Federal (STF) usando termos como “ditadura” e “tirania”, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem adotado uma postura discreta, evitando compromissos públicos e postagens políticas nas redes sociais. Esta semana é especialmente decisiva, pois coincide com o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela tentativa de derrubada do resultado das eleições de 2022. A estratégia de Tarcísio, que inicialmente buscava se alinhar ao bolsonarismo, agora parece estar em um movimento de recalibragem.
A agenda comedido de Tarcísio
Na única aparição pública da semana, Tarcísio participou rapidamente de um evento na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) na manhã de segunda-feira (8). Nesse encontro, o governador adotou um tom mais moderado trantando de assuntos relevantes para os empresários, mas evitou interações com jornalistas. Nos dias seguintes, ficou restrito a despachos internos, sinalizando que sua presença na mídia está sendo cuidadosamente controlada.
O silêncio do governador também se estende às redes sociais. Desde o 7 de setembro, Tarcísio fez apenas uma postagem, que tratou de uma operação policial na Favela do Moinho, uma comunidade cujo futuro de reurbanização é alvo de disputa entre os governos federal e estadual. Mesmo nesse post, não houve apelo político, apenas uma análise da situação, onde ele apontou que a permanência das pessoas em condições precárias favorecia o crime organizado.
Consequências do discurso crítico
O silêncio de Tarcísio em relação ao STF reflete uma reação estratégica frente à repercussão negativa de seu pronunciamento de domingo, que foi criticado não apenas por aliados moderados, mas também por ministros do próprio STF. O discurso foi visto como “fora do tom institucional”, com o potencial de “dinamitar pontes importantes”.
Paralelamente, as reuniões no Palácio dos Bandeirantes, onde o governador recebeu secretários e deputados, contrastam com sua agenda anterior, quando esteve em Brasília dois dias, buscando apoio para a anistia de condenados pelo ataque de 8 de janeiro.
Possíveis impactos eleitorais
A abordagem mais contida de Tarcísio pode ser interpretada como um movimento estratégico para conquistar uma base eleitoral mais ampla. O cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, destaca que a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022 teve como base principal o apoio de um “centro democrático”. Para 2026, Tarcísio precisará de mais do que o apoio do bolsonarismo, já que será essencial estabelecer-se como uma alternativa viável no espectro político.
Prando menciona que o governador tinha se distanciado da moderação com seus comentários sobre a Justiça, mas as críticas a seu discurso radical podem levá-lo a reconsiderar a necessidade de reconquistar o centro. Tarcísio pode entender que a radicalização não será a solução para conquistar a vitória nas futuras eleições.
Expectativas pós-julgamento
Um vídeo que circulou nas redes sociais, onde Tarcísio caracteriza a favela do Moinho como um “quartel-general do crime”, também aumentou as preocupações sobre sua imagem. À medida que a semana avança, o governador deverá aguardar a decisão do STF sobre as escolas cívico-militares, um programa que representa uma ponte com o bolsonarismo e que é fundamental para sua gestão. A corte está decidindo se mantém uma liminar que havia suspendido sua implementação anterior.
Tarcísio, portanto, está em um momento crucial, onde o equilíbrio entre suas opiniões ideológicas e a necessidade de apaziguar setores mais moderados poderá definir seu futuro político. Apesar de um aparente recuo tático, os aliados acreditam que mudanças na instância judicial podem desviar a atenção da sua retórica polêmica.
Em um ambiente turbulento, Tarcísio de Freitas caminha em um delicado fio da navalha, procurando manter a segurança política enquanto navega pelas águas tempestuosas da política brasileira.
Procurado para comentar, o Palácio dos Bandeirantes não se manifestou sobre a situação.