Na última quinta-feira (11/9), o ministro Cristiano Zanin, presidente da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), revelou durante seu voto que membros do alto escalão das Forças Armadas participaram da manutenção dos acampamentos que prepararam os atos ocorridos no dia 8 de janeiro. Zanin foi o último dos cinco magistrados a se manifestar nesse julgamento, que inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete réus. O STF já registra um placar de 4 a 1 a favor da condenação do ex-mandatário.
Provas da Insurreição Popular
Em seu discurso, o ministro afirmou que existiam “robustas provas” de que a organização por trás da mobilização política, que teve início após o resultado das eleições de 2022, constituiu uma “insurreição popular”. Ele destacou que essa movimentação teve suporte material e psicológico, facilitando a instalação e a manutenção dos acampamentos em frente aos quartéis militares.
“Esse apoio contou com agentes militares armados e com integrantes do alto escalão das Forças Armadas que atuaram de forma estável no planejamento e na execução das ações de organização”, declarou Zanin.
A dinâmica dos acampamentos bolsonaristas
Os acampamentos bolsonaristas começaram a se formar no dia 30 de outubro de 2022, dia da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais. O acampamento mais significativo foi montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, onde até 9 de janeiro de 2023, os manifestantes permaneceram por 71 dias. Durante esse tempo, 1.927 pessoas foram removidas do local e levadas para a Academia Nacional de Polícia Federal.
A estrutura do acampamento foi descrita como uma “minicidade golpista”. Barracas e tendas ofereciam áreas de oração, cozinhas comunitárias que forneciam três refeições diárias, sustentadas por doações de empresários e transferências via Pix. Além disso, havia espaços dedicados a pregações religiosas e locais destinados a pronunciamentos inflamados contra autoridades.
Composição dos manifestantes
Os frequentadores dos acampamentos eram um mosaico social, incluindo empresários, autônomos, aposentados, integrantes de grupos armamentistas e militares da reserva. Embora muitos não passassem a noite no acampamento, preferindo retornar para suas casas ou hotéis, a presença diária era significativa.
Relatórios das investigações indicam que o ambiente mesclava manifestações religiosas com planos de ações violentas e práticas de treinamento. Idosos eram vistos servindo refeições enquanto militares da reserva transmitiam táticas de guerrilha. O clima combinava devoção religiosa e palavras de ordem contra o presidente Lula, ministros do STF e até mesmo ataques direcionados a nordestinos.
A importância do julgamento
O julgamento de Jair Bolsonaro e dos demais réus tem sido um marco significativo no Brasil, demonstrando os caminhos que o sistema judiciário está tomando em relação aos eventos de janeiro. As declarações do ministro Zanin abrem um debate sobre o papel das Forças Armadas na política e as implicações jurídicas que estes relacionamentos têm em um Estado democrático. A discussão continua, e a sociedade brasileira aguarda ansiosamente o desfecho desse caso que poderá redefinir a relação entre política e poder militar no país.
À medida em que o julgamento avança, é claro que o foco sobre as evidências e testemunhos continuará a crescer, afetando o entendimento público sobre as ações tomadas durante a turbulenta transição de poder.
Para acompanhar o julgamento ao vivo, fique de olho nas várias plataformas de notícias que estão acompanhando o desdobramento dos fatos.