Recentemente, bispos das dioceses que fazem fronteira com os Estados Unidos se reuniram em Piedras Negras, Coahuila, para abordar a urgente questão dos migrantes mexicanos que tentam cruzar a fronteira. Durante o encontro, os líderes religiosos instaram tanto os governos quanto a sociedade civil a reconhecer e a tratar a dignidade violada de milhares de pessoas que fogem da guerra, da violência e da pobreza extrema.
A rota migratória mais perigosa do mundo
Os bispos denunciaram a dramática situação enfrentada por aqueles que buscam um futuro melhor e destacaram que a rota migratória que atravessa o México é considerada “a mais perigosa do mundo”. Segundo a Organização Internacional para as Migrações, os migrantes se inserem em um cenário extremamente arriscado, onde são constantemente expostos a sequestros, extorsões e diversas formas de violência. Com um aumento nas políticas restritivas dos Estados Unidos, que bloquearam vias legais de asilo, a situação dos migrantes se tornou ainda mais precária. Desde o início do ano, diversas opções de solicitações de asilo foram eliminadas, resultando em uma escalada de riscos e vulnerabilidades, como separações familiares e transferências forçadas.
A realidade dos migrantes enfrentando dificuldades cotidianas
Dom Gustavo García Siller, bispo de San Antonio, expressou sua crescente frustração com as atuais políticas adotadas pelos Estados Unidos, afirmando que a situação migratória é complexa e exigiria uma abordagem mais humana. Os bispos deixaram claro que suas vozes não são apenas um apelo à ação, mas uma síntese das trágicas narrativas que ouviram durante a visita a um centro de acolhimento, onde encontraram migrantes compartilhando experiências que eram “de partir o coração”. Vários contaram que venderam seus bens para tentar iniciar uma nova vida e enfrentaram desafios contínuos, incluindo ameaças de redes criminosas.
Ação imediata e a luta por corredores humanitários
No comunicado oficial ao final do encontro, os bispos fizeram um apelo por ação imediata para “abrir corredores humanitários seguros e legais para migrantes e refugiados mais vulneráveis”. Eles destacaram que, enquanto as nações têm o direito de proteger suas fronteiras, também têm a responsabilidade de assegurar a vida e a dignidade humana, incluindo a proteção do direito de asilo. A declaração reafirma a necessidade de um Estado de Direito que resguarde as famílias, especialmente os migrantes e refugiados, e que enfrente as novas dificuldades que estes grupos estão enfrentando diariamente.
Protestos por paz em meio à violência
Paralelamente, enquanto os bispos clamam por ações efetivas para proteger os migrantes, a violência nas cidades fronteiriças permanece alarmante. Recentemente, mais de 50 mil pessoas vestidas de branco saíram às ruas de Culiacán, um dos centros do narcotráfico mexicano, para protestar contra a violência que assola seus lares. O bispo da cidade, Jesús José Herrera Quiñónez, que participou da manifestação, fez um apelo à comunidade, ressaltando a importância de semear esperança e trabalhar pela paz em tempos de desespero. Ele enfatizou que a cidade precisa, mais do que nunca, de homens e mulheres que se tornem “artesãos da paz”.
A reunião dos bispos e as manifestações populares em Culiacán destacam a urgência e a complexidade da crise migratória e da violência no México, sinalizando que mudanças significativas são necessárias para promover a dignidade humana e a segurança nas comunidades afetadas.
O cenário em que migrantes se vêem inseridos reflete a intersecção entre questões políticas, sociais e humanitárias que exigem um olhar atento da sociedade. A busca por soluções não se restringe apenas à iniciativa dos governos, mas deve ser uma responsabilidade coletiva que incluirá todas as esferas da sociedade.