O arcebispo Inácio Saure da Arquidiocese de Nampula, em Moçambique, e outros líderes religiosos denunciaram a ocupação ilegal de terras da Igreja no país. A situação, agravada pela construção de mesquitas em terrenos tomadas da Igreja, preocupa a comunidade religiosa e aumenta o risco de conflitos interreligiosos.
Ocupações ilegais e silêncio das autoridades
Segundo relatório da fundação pontifícia e de caridade Aid to the Church in Need (ACN), várias propriedades da Igreja, incluindo terrenos onde se situam comunidades religiosas, dois seminários e a paróquia de São João Batista, em Marrare, têm sido ocupadas de forma ilegal.
Na denúncia, Saure relatou que, em pelo menos uma ocasião, uma mesquita foi erguida ao lado de um seminário, e os invasores têm vandalizado propriedades, derrubado árvores e levado animais de rebanho. “Quando tentamos dialogar, eles apareceram com facões e lanças, ameaçando demolir o seminário”, afirmou.
Falta de ação efetiva das autoridades
Apesar das várias denúncias e de uma ordem judicial de restituição de posse em 16 de maio, nenhuma ação concreta foi tomada pelos órgãos responsáveis, afirmou Saure. “As autoridades foram chamadas, mas foram expulsas; parece que há uma mão invisível que incentiva esses crimes”, lamentou.
Ele destacou ainda que, embora a Igreja tenha apresentado denúncias formais, o problema persiste há meses sem solução. “Queremos justiça para que nossos direitos sejam garantidos, pois essas terras são essenciais para comunidades vulneráveis que atendem aos pobres”, reforçou o arcebispo.
Contexto religioso e social
O padre Benvindo Isaías de Jesus, diretor da Rádio Católica Encontro, afirmou que a ocupação ilegal começou há bastante tempo, mas atualmente intensificou-se. “A maioria dos invasores são muçulmanos que, ao tomar as terras, constroem imediatamente uma mesquita”, explicou.
O missionário José Luzia, delegado há quase seis décadas no país, suspeita que a ocupação das terras possa estar relacionada às declarações recentes de Saure, que criticou duramente o cenário social e político de Moçambique. “Há uma sensação de que a ocupação seja organizada, possivelmente influenciada por interesses ocultos”, acrescentou.
Saure realizou uma coletiva de imprensa no dia 3 de setembro, na qual lançou um apelo às instituições e à comunidade internacional. “A lei parece não valer nada neste país. É urgente que a justiça seja feita e que os direitos da Igreja, e dos mais pobres, sejam respeitados”, afirmou.
Perspectivas e desafios futuros
As recentes ocupações acentuam a vulnerabilidade de comunidades religiosas em Moçambique e revelam a necessidade de maior proteção às terras e aos direitos das instituições religiosas frente às ameaças de violência e intolerância.
Este caso reforça a importância de uma resposta efetiva por parte das autoridades moçambicanas para garantir o cumprimento da lei e promover o diálogo interreligioso, que é fundamental para a estabilidade social do país.
Fonte original desta matéria foi publicada pelo ACI Africa, parceiro de notícias da CNA na África, e adaptada para o Brasil.