Na última quarta-feira, o voto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux na ação penal relacionada à trama golpista trouxe uma onda de reações que variaram de surpresa por parte dos advogados dos réus a comemorações entre bolsonaristas. A extensa manifestação de Fux, que se estendeu por praticamente todo o dia, provocou tensões entre os membros da Primeira Turma da Corte, especialmente devido às divergências em relação ao relator Alexandre de Moraes. Colunistas do GLOBO, que acompanharam de perto a sessão, trouxeram à tona os principais acontecimentos que movimentaram os bastidores ao longo do dia.
Voto de Fux levanta debates acalorados
No seu voto, que se estendeu por mais de 12 horas, Fux iniciou discutindo questões preliminares, um procedimento já anunciado por ele na terça-feira anterior. O ministro apontou a “nulidade total” do caso, alegando não reconhecer a competência do STF para julgá-lo, defendendo que os processos deveriam ser conduzidos de forma preliminar em instâncias inferiores. Esse posicionamento gerou surpresa e uma certa frustração entre os colegas de tribunal, que esperavam uma análise mais abrangente do caso.
Além disso, Fux atendeu a um pedido preliminar dos réus, que alegaram cerceamento do direito de defesa. De acordo com os advogados, eles enfrentaram atrasos e desorganização no acesso a uma quantidade massiva de provas eletrônicas, totalizando 70 terabytes, entregues de forma inadequada e a poucos dias das audiências. Para Fux, a entrega desordenada tornou o acesso à informação injusto, ferindo os direitos dos réus.
O impacto nas defesas e na bancada bolsonarista
A participação de Fux foi celebrada por diversos defensores dos réus, como estado pela colunista Vera Magalhães, que relatou que muitos viram a manifestação do ministro como um “grande ataque ao modus operandi e à autoridade” de Moraes. Um dos advogados observou que Fux parecia ser o único a considerar os argumentos das defesas, fortalecendo a ideia de uma análise mais justa e equilibrada.
Apesar de divergências marcantes nas preliminares, Fux acabou acolhendo a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, demonstrando que, mesmo dentro da lógica do julgamento, ainda havia espaço para discutir a colaboração do réu, o que causou reações de surpresa na plateia. Fux foi aplaudido com um “ohhhh” de espanto, revelando um clima tenso entre os presentes.
Clima pesado entre os colegas e repercussões externas
No entanto, o ambiente não era de celebração entre todos os membros da Primeira Turma. Registros da sessão indicam que o clima estava tenso, com Fux tentando, sem sucesso, estabelecer um contato mais amigável com os outros ministros, em especial com Cármen Lúcia. Durante um dos intervalos, Fux conversou rapidamente com Moraes, mas, de maneira geral, não houve interações significativas entre os dois, o que é atípico para reuniões do STF.
As reações externas foram amplamente favoráveis entre os bolsonaristas, que celebraram o voto de Fux nas redes sociais com a hashtag “Fux honra a toga.” Parlamentares também elogiaram a atuação do ministro, destacando seu papel fundamental no avivamento das discussões sobre o tema. O líder da oposição na Câmara, Zucco (PL-RS), chegou a brincar sobre a indicação de Fux por Dilma Rousseff, o que acrescentou uma pitada de humor ao clima já tenso do julgamento.
No entanto, mesmo entre os apoiadores de Fux, havia uma sensação de que o juiz poderia ter ido mais longe. Críticos entre os bolsonaristas afirmaram que a melhor resolução da situação seria pedir vista e interromper o julgamento, enfatizando que, apesar da atuação de Fux, o julgamento ainda parecia indefinido e polêmico.
As tensões geradas pelo voto de Fux e as repercussões que se desdobraram no STF e entre a população revelam um momento crucial para a política brasileira, que ainda lida com as consequências da trama golpista. O desenrolar desses acontecimentos promete continuar trazendo à tona debates e questionamentos sobre justiça e poder no Brasil.