Produtores de energia solar e representantes do setor elétrico estão intensificando esforços para que os painéis solares instalados em telhados — a chamada geração distribuída — sejam contemplados nos cortes de energia ocorridos durante o dia no Brasil. A disputa surge em meio a um cenário de crescente pressão por parte do setor, que vê a expansão dessa fonte como um fator que agrava os desafios de estabilidade do sistema elétrico nacional.
Disputa por inclusão da geração distribuída nos cortes de energia
De acordo com agentes do setor, a geração distribuída, que vem crescendo expressivamente e representa uma parcela significativa da energia produzida durante o dia, não tem sido considerada nos processos de cortes promovidos pelo Operador Nacional do Sistema (ONS). Essas interrupções ocorrem sobretudo em horários de forte insolação, quando há excesso de produção por painéis solares e outras fontes renováveis, levando a cortes de até 26% na produção total em agosto, segundo o Itaú BBA com base em dados do ONS.
Tensões e consequências do corte de energia
As interrupções, que acontecem principalmente durante as horas de maior insolação, geram impactos financeiros consideráveis, pois reduzem receitas de empresas do setor e prejudicam a estabilidade do sistema elétrico. Segundo Edvaldo Santana, ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o custo dessas interrupções pode chegar a R$ 1,5 bilhão por mês. Além disso, a baixa flexibilidade do sistema tem provocado uma forte pressão para a inclusão da geração distribuída nos cortes, sob risco de aumento da insegurança energética.
Reação do setor. Disputa na regulação e na política
Empresas de energia, associações e produtores independentes vêm articulando-se para que a geração distribuída seja considerada na distribuição dos custos dos cortes ou, ao menos, inserida na lista de fontes que podem ser afetadas. Os representantes alegam que a tecnologia de painéis solares instalados em telhados é voltada ao consumo próprio, eficiência energética e alívio na infraestrutura das redes de distribuição, não devendo pagar por problemas de planejamento do sistema.
Desafios e perspectivas futuras
Para alguns especialistas, a discussão revela um conflito entre o crescimento acelerado da energia solar e a capacidade de gestão do sistema elétrico brasileiro, que ainda enfrenta dificuldades relacionadas à transmissão, ao armazenamento e ao controle das fontes renováveis. O governo e órgãos reguladores analisam alternativas para ampliar a segurança, enquanto o setor busca garantir sua participação na solução ou na divisão dos custos das interrupções.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, a discussão sobre a inclusão da geração distribuída nos cortes está na pauta de próximas reuniões, com previsão de decisões ainda este ano, em meio a uma crescente pressão de agentes do setor elétrico e políticos.
Mais informações podem ser acessadas na matéria completa no O Globo.