Em 2 de setembro de 2025, o presidente Donald Trump comentou que a questão de armar professores para combater ataques de atiradores em escolas “precisa ser estudada”. Essa declaração ocorre após o tiroteio mortal na Igreja Católica Nossa Senhora da Anunciação, em Minneapolis, que matou duas crianças, reacendendo o debate sobre o tema.
Perspectivas da Igreja Católica sobre autodefesa
Apesar do debate acirrado, a doutrina católica apresenta aspectos que poderiam, pelo menos, permitir a possibilidade de armar professores. O Catecismo da Igreja Católica afirma que a legítima defesa pode incluir “um golpe letal”, desde que seja para proteger a própria vida ou a de outros, e não como fim em si mesma. Além disso, ressalta que a legítima defesa é um direito, às vezes até uma obrigação, de quem responde por uma comunidade.
“[T]omadores de decisão responsáveis têm o direito de repelir, com força armada, agressões contra a comunidade civil sob sua tutela”, aponta o Catecismo, indicando uma possível fundamentação moral para a ação de armamento em escolas.
Controvérsias e opiniões divergentes
Especialistas em ética moral questionam a validade dessa eventual autorização. O professor de teologia moral na Loras College, Jacob Kohlhaas, afirmou à CNA que armar professores é uma medida “profundamente equivocada”. “Não estou absolutamente pacifista, mas vejo a proposta como uma utilização equivocada de partes da tradição moral católica”, declarou.
Para Kohlhaas, a resposta à violência não deveria passar pelo aumento do armamento, especialmente em um cenário de deterioração do controle de armas, como nos Estados Unidos, onde a posse de armas se tornou mais acessível recentemente. “Criar um ambiente mais propício à violência, enquanto se aumenta o poder de resposta letal, é uma contradição com o bem comum”, analisou.
Por outro lado, o professor de filosofia da Wake Forest University, Patrick Toner, considera que a ideia de armar professores não é despropositada. Ele argumenta que, após o massacre na escola de Uvalde, Texas, as escolas tornaram-se “alvo fácil” por serem consideradas zonas livres de armas, o que favorece assassinos.
Fundamentos morais e reflexões oficiais
O Catecismo também cita São Tomás de Aquino ao afirmar que uma resposta de autodefesa deve evitar o uso de “mais que o necessário”, embora também reconheça que a proporção é justificável para proteger a vida, principalmente quando há responsabilidade pública envolvida.
Apesar de a Conferência dos Bispos dos EUA ter manifestado preocupações com a proposta de armar professores — citando o risco de ações precipitadas e a complexidade do tema —, nenhum papa fez um pronunciamento direto sobre o assunto. Ainda assim, figuras papais, como o Papa Leo XIII, já criticaram a indústria armamentista, especialmente em momentos de conflitos mundiais.
Conservadorismo, prudência e o papel social
Kohlhaas reconhece que algumas pessoas responsáveis, como agentes de segurança, têm o direito de portar armas de forma controlada, mas questiona o benefício de estender essa prática aos professores sem uma reflexão aprofundada. “A violência não é inevitável, cabe a nós criar e adaptar nossas sociedades para promover o bem comum”, afirmou.
Ele reforça que a sociedade deve refletir sobre as causas da violência e não apenas ampliar a resposta com mais armas. Assim, o debate continua, envolvendo aspectos morais, legais e práticos, sob a perspectiva de uma ética cristã e das obrigações de proteção à vida.