Brasil, 10 de setembro de 2025
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O livro de 40 anos que previu a política distópica atual

Na semana passada, Donald Trump compartilhou um meme gerado por inteligência artificial que satirizava uma suposta crise de deportações, numa imagem estilo filme de guerra. Essa ação exemplifica como o entretenimento vem moldando a política na era Trump, conceito que Neil Postman previu há quase 40 anos em seu livro clássico.

Relevância de “Amusing Ourselves to Death” na era Trump

Lançado em 1985, “Amusing Ourselves to Death” adverte que a maior ameaça à democracia americana não viria de repressão estatal, mas de uma cultura dispersa por entretenimento. Postman argumentava que a televisão, ao transformar a política em espetáculo, diminuiu a atenção do público e tornou o debate político superficial.

Durante o mandato de Trump, essa previsão foi confirmada: o uso deliberado de espetáculo e distração foi uma estratégia, exemplificada pelo ex-diretor de comunicação Steve Bannon, que prometeu “inundar o zone with s–t”. Para críticos como Ezra Klein, a tarefa virou distinguir o ruído do conteúdo relevante, cabendo ao livro uma orientação para essa leitura.

O contexto de surgimento do livro e suas inspirações

Postman escreveu “Amusing” numa época marcada pelo medo de Orwell, no início dos anos 80. Contudo, ele via na obra de Aldous Huxley, autor de “Brave New World”, uma previsão mais precisa: uma sociedade sedada por prazer, onde a aceitação da domesticação ocorre por escolha própria, não por coerção.

Para Postman, a televisão teve papel decisivo nesse processo. Dados de uma pesquisa de 1985 indicam que 64% dos americanos buscavam notícias na TV, enquanto 40% ainda acessavam jornais, sinalizando a mudança de paradigma na informação. As redes de TV passaram a priorizar espetáculos rápidos e visualmente atrativos, alimentando uma cultura de superficialidade e entretenimento.

Reagan, televisão e a transformação do discurso político

Numa época em que Ronald Reagan, ex-ator de Hollywood, utilizava sua imagem para reforçar slogans e referências cinematográficas, o entretenimento se misturava à política. Reagan também misturava fatos e ficção, criando uma comunicação sedutora, que Postman alertava ser perigosa ao diluir o compromisso com a verdade.

Esse processo de trivialização da política, conforme Postman, faz com que o público não debate ideias, mas consuma imagens, celebridades e comerciais. A atmosfera de superficialidade ameaça enfraquecer o entendimento crítico dos cidadãos.

Atualização do alerta de Postman frente a Trump e o cenário atual

Hoje, com Trump na presidência e a política cada vez mais espetáculo, o diagnóstico de Postman permanece relevante. Embora seu livro tenha sido contextualizado na década de 1980, as suas críticas à cultura do entretenimento e à distração como ferramenta de domínio continuam atuais.

O autor previa que o maior perigo seria a aceitação voluntária do entretenimento como forma de convivência social, fenômeno que se intensificou na era digital, onde as redes sociais aceleraram a dispersão e a polarização.

Perspectivas e desafios futuros

O risco de uma sociedade distraída e toldada por narrativas superficiais desafia a democracia e o compromisso com a verdade. Como alertou Postman, é fundamental recuperar a atenção às questões essenciais, combatendo a influência do entretenimento de forma a manter a integridade do debate público.

À medida que o cenário político continua evoluindo, o debate sobre o papel da mídia e do entretenimento na formação da opinião pública se torna ainda mais urgente, exigindo uma reflexão crítica e ações conscientes para preservar a democracia.

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