O presidente argentino Javier Milei anunciou um pacote de medidas econômicas nesta quarta-feira (10), visando ampliar a circulação de dólares e fortalecer as reservas do país. As ações fazem parte do esforço do governo após o acordo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e buscam conter a inflação e estimular investimentos estrangeiros.
Inflação em queda e ajustes cambiais na Argentina
Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), a inflação de agosto foi de 1,9%, ligeiramente abaixo da expectativa de economistas, que previam 2%. O índice se manteve estável em relação a julho, e o acumulado em 12 meses até agosto ficou em 33,6%, inferior aos 36,6% do mês anterior. Esses dados indicam uma estabilização na tentativa de Milei de controlar preços, após anos de forte recessão e alta inflação.
As ações recentes incluem a flexibilização do controle de câmbio, com o fim da paridade fixa do peso argentino frente ao dólar e a implementação do câmbio flutuante — determinado pela oferta e demanda do mercado. Essa mudança visa incentivar a entrada de dólares no país e melhorar o cenário econômico.
Medidas para injetar dólar na economia argentina
Para alcançar esse objetivo, o governo anunciou diversas ações, como a liberação do uso de dólares mantidos fora do sistema financeiro — os chamados “dólares debaixo do colchão” — sem necessidade de declarar a origem. Além disso, o Banco Central lançou planos de captação de US$ 2 bilhões por meio de emissão de títulos, além de flexibilizar operações com títulos públicos em pesos e dólares.
Outro passo importante foi o compromisso de reduzir a emissão de moeda pelo banco central, buscando aliviar pressões inflacionárias e estabilizar o câmbio. “Essas medidas determinam um esforço conjunto para fortalecer as reservas e atrair investimentos estratégicos ao país”, destacou o ministro da Economia, Sergio Massa.
Desafios políticos, crise e cenário social
Apesar de alguns avanços econômicos, a Argentina enfrenta uma grave crise política. Recentemente, Milei viu sua popularidade ameaçada após o vazamento de um áudio no qual Karina Milei, secretária-geral da Presidência e irmã do presidente, é acusada de corrupção. Segundo denúncia de Diego Spagnuolo, ex-chefe da Agência Nacional de Discapacidade (Andis), ela e o subsecretário de Gestão Institucional, Eduardo “Lule” Menem, cobrariam propinas de indústrias farmacêuticas para a compra de medicamentos públicos, o que tem gerado protestos e insatisfação na população.
Desde sua posse, em dezembro de 2023, Milei decidiu paralisar obras federais e interromper repasses aos estados, além de retirar subsídios de tarifas essenciais, o que causou aumento nos preços ao consumidor. A inflação permanece elevada, e, no primeiro semestre de 2024, a pobreza atingiu 52,9%, caindo para 38,1% no segundo semestre, com 11,3 milhões de argentinos vivendo em situação de pobreza.
Perspectivas futuras e desafios
O acordo com o FMI e as medidas de flexibilização cambial sinalizam uma tentativa do governo de estabilizar a economia e reduzir a inflação, que atualmente está abaixo de 2% ao mês nas últimas divulgações. No entanto, a crise política e os altos índices de pobreza representam obstáculos significativos para a recuperação econômica sustentável da Argentina.
Analistas avaliam que, apesar das ações para fortalecer o fluxo de dólares, será necessário um esforço contínuo de reformas estruturais e controle da inflação para que o país retome o crescimento econômico e melhore as condições de vida da população.
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