Os títulos soberanos argentinos registraram fortes perdas nesta segunda-feira (8), com as maiores quedas entre mercados emergentes. Os papéis com vencimento em 2035 despencaram mais de 6 centavos por dólar, sendo negociados a 55,37 centavos às 10h13 (horário local), enquanto seus rendimentos saltaram para 12,8%. O peso argentino também sofreu uma desvalorização de 7%, fechando próximo ao limite superior de sua faixa de negociação, em 1.450 por dólar, no início do pregão.
Impacto eleitoral e o clima na Argentina
A derrota do partido de Javier Milei na eleição da província de Buenos Aires, que responde por quase 40% do eleitorado nacional, reacendeu a incerteza no mercado. Com 99% das urnas apuradas, o resultado mostrou uma vantagem de quase 14 pontos percentuais para a oposição peronista de esquerda, contrariando as expectativas de uma vitória mais apertada. Investidores temem que essa derrota afete a continuidade das reformas econômicas e a estabilidade do país.
Reação dos investidores e clima político
O banco Morgan Stanley anunciou o encerramento de uma recomendação de compra de ativos argentinos iniciada na semana passada, após o resultado eleitoral. “A derrota retumbante do La Libertad Avanza, de Milei, na província de Buenos Aires, provavelmente confirmará as piores preocupações do mercado e desencadeará um ciclo de quedas nos preços, medidas políticas desagradáveis e expectativas mais pessimistas”, afirmou o economista Fernando Sedano, do Morgan Stanley.
Segundo analistas, a redução do otimismo no cenário político aumenta as chances de um “cenário negativo em que o mercado questiona a continuidade das reformas e cresce a incerteza sobre as futuras fontes de financiamento externo”. O resultado também prejudica a percepção sobre o cenário econômico, que já vinha enfrentando dificuldades devido às turbulências na política cambial e às restrições monetárias.
Contexto político e consequências econômicas
Apesar do forte desempenho de Milei em outras regiões, seu desempenho na província de Buenos Aires demonstra as dificuldades do candidato ultraliberal em consolidar apoio no maior reduto do peronismo. O resultado gerou preocupações entre investidores com relação à estabilidade política e à implementação de reformas econômicas, essenciais para o reequilíbrio fiscal do país.
Após os resultados, Milei reconheceu a derrota, admitiu erros políticos e prometeu uma “profunda autocrítica” para corrigir suas estratégias antes das eleições parlamentares de outubro. Ele também se comprometeu a fortalecer seu modelo econômico, mantendo as políticas cambiais e as restrições monetárias atuais, conforme declarou em entrevista.
Cenário de crise e intervenções no câmbio
Nos últimos dias, Milei vinha enfrentando dificuldades para defender a moeda, restringindo a liquidez e elevando as taxas de juros ao máximo. Como medida de emergência, o governo interveio no mercado cambial, elevando as preocupações sobre as reservas internacionais. “As intervenções não conseguiram conter a depreciação e aumentaram o risco de uma nova rodada de calotes por parte de empresas, agravando o clima de incerteza”, avalia o estrategista Fabrício Oliveira, da consultoria Economática.
O desempenho dos títulos argentinos em dólares também ressaltou o cenário de crise, depreciando-se 5,5% no último mês, segundo índice da Bloomberg, enquanto a média da dívida de países emergentes apresentou ganho de 2% no mesmo período.
Perspectivas para os próximos meses
Analistas de mercado acreditam que a derrota de Milei na maior província do país sinaliza uma possível piora na conjuntura econômica. Jimena Zúñiga, analista da Bloomberg Economics, destacou que “a ocorrência deve desencadear uma série de medidas políticas desfavoráveis e aumentar as expectativas de depreciação da moeda”.
Antes da votação de outubro, Milei deve se reunir com seu gabinete nesta segunda-feira para definir estratégias de ajuste. Os investidores ficarão atentos às ações que poderão amenizar os riscos e estabilizar o mercado cambial.
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