Os programas de milhagem estão se consolidando como um dos ativos mais valiosos da indústria da aviação. Segundo estimativas globais, essas plataformas valem centenas de bilhões de dólares e representam uma parcela significativa do valor das empresas que os gerenciam, especialmente nos Estados Unidos.
Como funcionam os programas de fidelidade
Impulsionados pelo uso massivo de cartões de crédito vinculados às companhias aéreas, os programas de fidelidade se tornaram essenciais para o sucesso das maiores empresas do setor. Nos EUA, bancos compram pontos em grande volume, gerando bilhões de dólares anuais, enquanto as aéreas lucram com as taxas e incentivos associados.
O analista Jay Sorensen explica que o crescimento dessa dinâmica foi acelerado pelo advento dos cartões de crédito das próprias companhias aéreas, que transformaram o conceito de recompensa em uma moeda de troca valiosa e negociável.
Impacto financeiro e estratégico
As maiores companhias americanas, como American Airlines, Delta Airlines e United Airlines, geram, juntas, bilhões de dólares com seus programas de fidelidade. Em 2024, a American valia cerca de US$ 24 bilhões, enquanto a Delta tinha um valor estimado em US$ 28 bilhões, segundo estudo da IdeaWorksCompany.
Esses programas fizeram com que as empresas reforçassem seu domínio no transporte aéreo, oferecendo benefícios exclusivos, como upgrades de assento, acesso a salas VIP e prioridade no embarque, criando uma relação emocional e de fidelidade com seus clientes.
Estratégia e resiliência durante a pandemia
Durante a pandemia, os programas de milhagem se mostraram uma fonte de estabilidade financeira. As companhias utilizavam seus ativos de fidelidade como garantia para empréstimos de bilhões de dólares, e mesmo com vendas menores de passagens, a receita proveniente das plataformas de pontos sofreu impacto mínimo, como no caso da United, cuja receita de fidelidade caiu apenas 2% em 2008 e 2009.
Luc Bondar, da United, afirma que os programas passaram a ser uma plataforma de valor e crescimento, além de uma fonte de estabilidade para o setor.
Desafios e regulamentação
No entanto, a relação lucrativa dos programas de fidelidade também atrai críticas e propostas de mudanças regulatórias. Na União Europeia, por exemplo, há limites para as taxas cobradas pelos bancos nos cartões de crédito, enquanto nos EUA, essas taxas permanecem próximas de 1,8% — valor considerado elevado pelos críticos.
Um grupo de senadores norte-americanos propôs limites nas taxas de transação, apoiados por comerciantes, mas enfrentam resistência de bancos e companhias aéreas, dificultando sua aprovação. Apesar disso, especialistas acreditam que esses programas continuarão a evoluir e crescer, com algumas companhias explorando novas áreas além da aviação, como conteúdo de mídia e parcerias com marcas como Starbucks e Uber.
Futuro e expansão dos programas de fidelidade
As companhias aéreas planejam ampliar ainda mais o alcance de suas plataformas de fidelidade. A United, por exemplo, deseja desenvolver a plataforma MileagePlus para oferecer experiências, produtos de outras marcas e maior relevância ao cliente. A estratégia visa criar resiliência financeira e manter a preferência do consumidor em um mercado cada vez mais competitivo.
Especialistas alertam que, apesar do crescimento contínuo, o valor dos pontos e a relação emocional dos passageiros com os programas podem ser prejudicados se as aéreas dificultarem o resgate ou restringirem benefícios, levando clientes a buscar alternativas.
Na análise do mercado, os programas de fidelidade se mostram como negócios altamente estratégicos e racionalizados, que, mesmo em tempos de crise, continuam sendo uma grande fonte de receita e fidelização para as companhias aéreas.