A recente suspensão do seguro obrigatório DPVAT, ocorrida em novembro de 2023, tem gerado sérias consequências para as vítimas de acidentes de trânsito em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio de Janeiro. Com um aumento alarmante no número de ocorrências, a falta de amparo financeiro para custear tratamentos médicos tem sido uma preocupação crescente entre os moradores da região.
Dados alarmantes sobre acidentes de trânsito em Nova Friburgo
Os números são preocupantes. De acordo com o 6º Grupamento de Bombeiro Militar (GBM), entre 1º de janeiro e 30 de agosto de 2025, foram registrados 514 acionamentos para casos que envolvem colisões, capotagens, quedas de veículos e atropelamentos. Esse número representa 67% do total de ocorrências registradas em todo o ano de 2024, que somaram 767 casos.
Os motociclistas continuam a ser o grupo mais afetado. Nos primeiros oito meses deste ano, o GBM atendeu a 346 acidentes envolvendo motos, um leve aumento em comparação com os 334 atendimentos no mesmo período do ano passado. Essa realidade destaca a urgência da reativação do DPVAT, que sempre serviu como uma rede de proteção para motoristas e pedestres.
Criança gravemente ferida devido à falta de suporte médico
Um dos casos mais emblemáticos nesta situação é o de três irmãs atropeladas no bairro Prado, em Santos André. Elas voltavam da escola quando um carro desgovernado as atingiu. Emily, de quatro anos, passou 41 dias em coma, após diversas cirurgias no crânio e no pé. Sua irmã mais velha, de cinco anos, precisou operar o fêmur, enquanto a adolescente de 16 anos sofreu escoriações leves.
Adalto da Marcela de Andrade, pai das meninas, relatou ao g1 os desafios enfrentados para arcar com as despesas: “Fiquei perdido. Minha filha estava bem e, de repente, chegou a notícia de que uma estava em coma, a outra já tinha sido socorrida… Eu fiquei sem chão. A Emily precisa ir ao hospital Raul Sertã para curativos a cada 15 dias e tem consultas em Rio. Toda essa despesa está nos consumindo.”
Impacto nos tratamentos de longo prazo
Outro testemunho angustiante é o do metalúrgico Renato Vicente Pinto, que se envolveu em um grave acidente em agosto de 2024. Ele foi atingido por um carro enquanto voltava do trabalho e ficou preso às ferragens. Renato passou por diversas cirurgias, incluindo a colocação de parafusos no joelho e na bacia. Um ano depois do acidente, ele ainda depende de muletas e necessita de transporte adaptado para as sessões de fisioterapia.
“Estamos batalhando para pegar o DPVAT há um ano. O motorista que me atropelou nunca me deu assistência. Tudo tem sido pago do meu bolso, desde remédios até o transporte. A situação financeira piorou, já que a fábrica cortou benefícios. Está muito difícil”, desabafou Renato.
Audiência pública busca resolver a situação do DPVAT
Em meio a essa crise, a Câmara dos Deputados agendou uma audiência pública para discutir a liberação de R$ 2,6 bilhões do fundo do DPVAT, valor que está retido desde 2023. A expectativa é que esses recursos sejam utilizados para indenizar vítimas de acidentes de trânsito em todo o país, incluindo os moradores de Nova Friburgo.
Segundo Marco Antônio Fernandes Ferreira, procurador de seguros, “o DPVAT não é um imposto, é um seguro obrigatório. Hoje, o Brasil é o único país da América Latina sem essa cobertura. Essa audiência pode garantir o repasse do dinheiro retido, que é vital para as vítimas”.
A situação em Nova Friburgo serve como um lembrete sombrio da importância do DPVAT na proteção das vítimas de acidentes de trânsito. Enquanto a luta pela reativação desse seguro continua, muitas famílias enfrentam desafios financeiros e psicológicos, esperando por um apoio essencial que, por enquanto, está fora de alcance.