No último sábado, dia 6 de setembro, a Praça da Liberdade em Tallinn, Estônia, se encheu de devotos e dignitários católicos para a beatificação do Arcebispo jesuíta Eduard Profittlich. O arcebispo, que foi martirizado em 1942 por sua fé durante a perseguição do regime soviético, foi homenageado em uma cerimônia que ressaltou o significado profundo da dedicação e coragem na vivência do Evangelho. Juntamente com ele, Mária Magdolna Bódi, uma jovem leiga que também morreu em virtude de sua resistência a soldados soviéticos, foi beatificada, simbolizando a luta pela dignidade humana e a firmeza da fé cristã.
A coragem de Eduard Profittlich
Eduard Profittlich, primeiro arcebispo católico da Estônia, tomou a coragem de permanecer em seu país natal mesmo quando sua vida estava em risco. No início da ocupação soviética em 1940, ele poderia ter escapado para a Alemanha, mas optou por ficar com seu rebanho, acreditando que “o pastor pertence ao seu rebanho”. Esta decisão o levou a ser preso e, eventualmente, a perder a vida na custódia soviética, destacando seu compromisso inabalável com a Igreja e sua missão pastoral.
Durante a cerimônia de beatificação, o cardeal Christoph Schönborn, arcebispo emérito de Viena, destacou o testemunho de vida e martírio de Profittlich, que foi considerado um exemplo de verdadeira vocação e amor pelo próximo. O cardeal lembrou das palavras do beatificado: “Quando por fim ficou claro para mim que eu tinha que ficar, minha alegria foi tão grande que, com alegria e gratidão, rezei o Te Deum.”
Reflexões sobre o papel dos bispos
Em seu discurso na Aula Magna da Pontifícia Universidade Urbaniana, instantes após a beatificação, o cardeal Schönborn falou a mais de 190 bispos recém-nomeados que participavam de um curso de formação em Roma. Ele utilizou a vida de Profittlich como exemplo de como os clérigos devem encarar seu ministério. O cardeal enfatizou a importância de construir uma comunidade de fraternidade entre os bispos e os sacerdotes que lideram. “Os sacerdotes devem sentir que o bispo os aprecia, os estima, os ama”, afirmou, sugerindo encontros semanais para fomentar esse relacionamento.
A importância da proximidade e apoio aos pobres
O cardeal também fez um apelo para que os novos bispos não se distanciassem de suas comunidades, especialmente as mais vulneráveis. Ele sublinhou a necessidade de uma liderança que não se limite apenas a discursos, mas que busque compreender as realidades das vidas das pessoas, principalmente dos pobres e marginalizados. “Nunca me esqueço do muçulmano marroquino que vendia lenços na periferia de Roma. Ele sempre respondia ‘está tudo bem’ quando perguntava como estava, apontando para o céu”, lembrou o cardeal.
Com sua veemente defesa da verdade e misericórdia em conjunto, o cardeal Schönborn lembrou que mesmo os sacerdotes que cometem erros permanecem irmãos em Cristo. Ele destacou a importância de apoiar a recuperação deles e promover a verdadeira justiça ao lidar com erros e crimes, em vez de abandoná-los.
A relação da Igreja com a política
Em suas considerações sobre o papel da Igreja na esfera política, Schönborn fez um apelo à reflexão. Ele mencionou as transformações sociais e políticas que muitos países católicos enfrentam, sugerindo que os bispos devem buscar relações positivas com representantes políticos que compartilham princípios humanos fundamentais, mesmo que não compartilhem a fé católica. Isso poderia incluir parcerias em questões como a luta contra a eutanásia, por exemplo.
A voz das mulheres na Igreja
Outra questão abordada pelo cardeal foi a presença das mulheres na Igreja. Ele expressou preocupação sobre a percepção de exclusão das mulheres em ministérios ordenados, um tema que tem suscitado debate. Apesar de reafirmar a doutrina da Igreja sobre a ordenação, pediu que mais espaço fosse dado à participação feminina em diversos níveis dentro da estrutura eclesial, especialmente no apoio e na liderança das pequenas comunidades.
O evento mencionado representou um marco significativo na história da Igreja na Estônia, destacando a importância da fé e da coragem frente à perseguição e, ao mesmo tempo, lançando luz sobre as responsabilidades dos líderes religiosos na promoção da unidade, compreensão e compaixão em suas comunidades.