Nos últimos dias, as manifestações organizadas por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro geraram um notório engajamento em todo o Brasil. Segundo o Monitor do Debate Político, um projeto do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), coordenado por Pablo Ortellado e Márcio Moretto da Universidade de São Paulo (USP), em colaboração com a ONG More in Common, a mobilização mostrou-se elevada, refletindo a força do movimento nas ruas.
A mobilização em números
De acordo com os dados apresentados por Ortellado, cerca de 2% dos eleitores de Bolsonaro compareceram às manifestações, um índice considerado muito elevado quando comparado a histórico de mobilização em outras sociedades. “Se a gente olhar nos parâmetros históricos, é um nível de mobilização muito significativo”, afirmou Ortellado, ressaltando a importância do evento.
Comparação entre as principais cidades
Analizando as duas maiores cidades do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo, Ortellado observou que o engajamento foi geralmente mais alto em eventos onde Bolsonaro estava presente. No entanto, nas manifestações recentes, em que o ex-presidente não compareceu, a mobilização foi semelhante entre ambos os locais, com um leve predomínio das manifestações no Rio de Janeiro devido à sua menor população.
Estatísticas específicas revelam que São Paulo teve 42,2 mil participantes, enquanto o Rio de Janeiro registrou 42,7 mil. “Não são apenas as maiores mobilizações em termos absolutos, mas também em relação ao número de habitantes e ao número de eleitores de Bolsonaro. No Rio, proporcionalmente estão mais engajados”, explicou Ortellado.
Engajamento em outras cidades
O fenômeno da mobilização também foi notado em outras capitais, com destaque para Recife. Mesmo tendo eleito Lula em 2022, a cidade apresentou uma taxa significativa de 4.113 pessoas nas ruas, o que equivale a 9,5 em termos de mobilização por eleitores do ex-presidente. Ortellado enfatizou que Recife e Florianópolis apresentaram índices de mobilização que são praticamente o dobro em comparação a outras cidades, algumas das quais elegeram Bolsonaro.
Além de Recife, outras cidades também registraram participações notáveis. Belém, no Pará, teve 1.670 cidadãos presentes, enquanto Goiânia, em Goiás, reuniu 1.437 pessoas. Florianópolis, embora tenha o menor número de participantes com 593, ainda assim, teve uma taxa de 1,3 por mil habitantes em relação à sua população total.
Reflexões sobre o engajamento político
A análise dos dados sobre as manifestações bolsonaristas revela um fenômeno interessante: mesmo em áreas que historicamente apoiam a esquerda, como Recife, há um engajamento expressivo por parte dos eleitores de Bolsonaro. Essa dinâmica evidencia a polarização política que vem se intensificando no Brasil e coloca em debate o futuro do cenário político nacional.
A constante mobilização dos eleitores de Bolsonaro evidencia a possibilidade de que, apesar da derrota nas urnas, seu legado e influência continuam a ressoar em diversas partes do país. Com um percentual significativo de sua base mobilizada, resta saber como isso impactará as próximas eleições e a forma como os cidadãos vão se mobilizar em torno de suas crenças e ideologias.
Com a política brasileira em um momento delicado, e os recentes protestos marcando um novo capítulo no ativismo dos apoiadores de Bolsonaro, analistas e cidadãos ficarão atentos aos desdobramentos futuros.
A combinação de dados locais e a capacidade de mobilização têm potencial para transformar o cenário político, fazendo com que a voz dos cidadãos ganhe cada vez mais importância nas discussões nacionais.