Brasil, 6 de setembro de 2025
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Reação de uma acompanhante à representação em “Anora”

O filme “Anora”, dirigido por Sean Baker e estrelado por Mikey Madison, tem causado burburinho ao retratar a vida de uma stripper que se casa com um herdeiro russo. Enquanto alguns elogiam a autenticidade das cenas iniciais, jovens profissionais do setor, como Emma*, uma acompanhante e dançarina de Manhattan, criticam duramente a narrativa e seus estereótipos.

Representações precisas ou distorcidas?

Emma comentou que as cenas no clube inicialmente pareciam realistas, especialmente para quem trabalha no setor. “Quando assisti o começo, achei que era verdade porque parecia como se estivesse no meu lugar de trabalho”, ela explicou. Porém, ela destacou que algumas situações, como Ani questionando Vanya se ele queria fazer sexo novamente após pagar por isso, não condizem com a ética da profissão. “Nós nunca faríamos isso, porque já está tudo pago”, disse.

Percepções sobre dependência financeira e autonomia

Emma se irritou ao ver as dançarinas comemorando a noiva Ani ao aceitar o engajamento com Vanya, sem questionar a dependência financeira ou a estabilidade que muitas buscam na profissão. “Nada na minha experiência sugere que elas aceitem depender de alguém assim”, ela afirmou. Para ela, a independência financeira é um ponto fundamental na vida das profissionais do sexo, que lutam para evitar a dependência de homens e conservam sua autonomia.

Estereótipos e a imagem da mulher na indústria

A jovem também criticou a representação da personagem Ani como uma mulher “excessivamente sexualizada” após o casamento, algo que ela acredita ser uma visão distorcida. “Isso parece um desejo de um filme de fantasia masculina. Na vida real, quando passamos a conhecer alguém profundamente, essa persona ‘quente’ desaparece”, ela explicou. “Se ela realmente continuasse nesse comportamento, para ela, tudo seria apenas trabalho — e dinheiro.”

Reações à narrativa e aos finais

Emma destacou que a cena final, no carro, reforça uma visão romantizada, de uma mulher emocionalmente destruída, cujo sofrimento é explorado pelo filme. “O que vejo é que muitas pessoas pensam que mostrar dor é uma representação verdadeira da experiência sexual. Mas, na minha visão, a dor vem de insegurança financeira ou da falta de respeito na sociedade, não da sexualidade em si.” Ela criticou ainda a ideia de que o personagem de Vanya, por ser gentil, justificaria o relacionamento, algo que ela acredita ser uma ilusão.

Crítica à visão masculina de fantasias e a estereotipagem

Segundo Emma, o filme reforça o padrão de representação de mulheres como objetos de desejo emocionalmente frágeis, um padrão que ela considera prejudicial e falsificado. “As pessoas vendem uma ideia de que um relacionamento com um homem rico e gentil é possível na nossa rotina, mas é uma ilusão que acaba reforçando o sentimento de inutilidade e a objetificação.”

Relevância das mulheres na indústria

Emma reforça que o que mantém muitas mulheres no setor são suas colegas — inteligentes, fortes e capazes. “São as meninas na sala de bastidores que fazem a diferença, e é por elas que continuo na profissão, mesmo exausta. Essa é uma comunidade de resistência”, ela afirmou.

Críticas ao estereótipo de “feio” e “velho”

Ela também criticou a representação de homens mais velhos e considerados “secos” como os únicos abusivos, apontando que jovens homens bonitos, muitas vezes, representam o maior problema. “Eles acham que somos obrigadas a querer uma história de amor com eles, mas nunca é assim. Muitos tentam se passar por ‘bons caras’, mas é uma ilusão”, ela ressaltou.

Reflexões finais sobre o filme e seu impacto

Para Emma, a romantização e o sensacionalismo do sofrimento na indústria de sexo e striptease perpetuam estereótipos danosos. “A mensagem de que a dor é tudo o que importa faz das histórias uma ‘fórmula de sucesso’ para quem quer lucrar com o sofrimento de mulheres reais.” Ela conclui que, por trás das cenas glamorosas, há uma realidade de autonomia, força e resistência das profissionais do setor que muitas vezes é silenciada ou distorcida na mídia.

*Nome fictício para preservação de identidade.

Perspectivas futuras

A crítica de Emma ressalta a necessidade de representações mais autênticas e respeitosas da vivência de profissionais do sexo na mídia. Como ela afirma, é fundamental desconstruir os mitos e estereótipos que perpetuaram na cultura popular e reconhecer a autonomia e força dessas mulheres.

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