O Partido Liberal (PL) planeja transformar a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em protagonistas da manifestação do 7 de Setembro, que será realizada na Avenida Paulista, neste domingo (7). A escolha vem em um momento delicado para o PL, com Jair Bolsonaro afastado das atividades públicas devido a sua prisão domiciliar desde o início de agosto.
Os novos rostos do bolsonarismo
Com Jair Bolsonaro fora do cenário, Michelle Bolsonaro tem assumido cada vez mais os compromissos políticos da família. Para o PL, tanto Michelle quanto Tarcísio representam os novos rostos do bolsonarismo e a continuidade do legado do ex-presidente. Tarcísio, em particular, recebeu autorização de Bolsonaro para abordar temas de interesse nacional e tem trabalhado na articulação da anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos ocorridos no dia 8 de janeiro.
Contudo, a presença de Michelle na manifestação ainda é incerta. De acordo com sua assessoria, a decisão de comparecer depende do estado de saúde do ex-presidente, que tem enfrentado crises de soluço relacionadas a um atentado que sofreu durante a campanha eleitoral de 2018. A confirmação da presença de Michelle será divulgada apenas no dia do evento. Se não puder comparecer, uma gravação dela será transmitida simultaneamente em todos os estados onde ocorrerem atos organizados por aliados.
Palanque em busca de projeção política
Apesar da incerteza quanto à presença da ex-primeira-dama, o pastor Silas Malafaia, responsável pela organização do evento na Avenida Paulista, assegurou que tanto ela quanto Tarcísio estão programados para discursar. O governador já confirmou sua participação e deve ser o primeiro a assumir o microfone, enquanto a expectativa gira em torno de seu discurso e sua postura no evento.
Este 7 de Setembro é simbólico, sendo o primeiro sem Jair Bolsonaro à frente do trio elétrico. A intenção do PL é que, neste ano, Michelle e Tarcísio ocupem o espaço que pertencia ao ex-presidente e revitalizem a militância, em um momento que também serve como termômetro para a eleição de 2026. Ambos aparecem como candidatos fortes na corrida presidencial futura, com a última pesquisa Datafolha mostrando um empate técnico com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora o petista ainda possua uma vantagem numérica.
Demandas da manifestação
A mobilização deste ano deve girar em torno de duas bandeiras principais: a defesa da liberdade de Bolsonaro e a pressão pela aprovação de uma anistia no Congresso Nacional. O pastor Malafaia destacou a pauta da manifestação: “Reaja Brasil, pela injustiça. Reaja Brasil, por anistia. Reaja Brasil pelo julgamento de Bolsonaro.” Essas demandas refletem a estratégia do PL de conquistar apoio e unir os bolsonaristas em torno de questões que afetam diretamente a imagem e o futuro do ex-presidente.
Apesar da tentativa do PL de galvanizar a militância, o ex-presidente não deve aparecer durante o ato, por recomendação de seus advogados, que temem que qualquer imagem sua possa levar a uma nova repercussão negativa após a sua recente prisão domiciliar. Com a ausência de Bolsonaro, cabe a Tarcísio e outros líderes do PL assumir a linha de frente.
Futuro da anistia
Nos bastidores, o PL está debatendo uma minuta para um projeto de anistia, mas o clima para a aprovação desse tema ainda é incerto. A proposta de uma anistia ampla e irrestrita é vista como difícil de prosperar. Diante disso, alguns membros do partido já aventam a possibilidade de apoiar um texto que exclua Bolsonaro da proposta, o que poderia facilitar a tramitação no Congresso.
Na última quinta-feira, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), se reuniu com o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), e declarou que não pautaria o tema na próxima semana, sugerindo que a relatoria da proposta deverá ser entregue a um parlamentar de centro. Isso revela a complexidade das negociações em torno da anistia e as divergências internas no PL, que ainda tentam organizar uma base sólida em um contexto político conturbado.
Em suma, o 7 de Setembro deste ano se apresenta como um evento decisivo não apenas para a manutenção da base bolsonarista, mas também para a consolidação de novos líderes que poderão assumir a bandeira do bolsonarismo nas eleições de 2026.