Brasil, 25 de novembro de 2025
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Memórias da tragédia do bondinho de Santa Teresa em agosto

Viúva relembra impacto da tragédia de 2011 enquanto bairro enfrenta desafios.

Toda vez que o mês de agosto chega, Dulce Araújo da Silva sente seu coração apertar. É um período marcado pela lembrança do marido, Nelson Correa da Silva, condutor do bondinho que faleceu em um trágico acidente em 2011, quando um dos icônicos bondes de Santa Teresa desceu desgovernado e deixou um rastro de dor, com seis mortos e 57 feridos. A perda não afeta apenas Dulce, mas toda a comunidade, que reverbera a ausência de Nelson, um motorista conhecido por sua cautela e dedicação.

Uma vida transformada pela tragédia

Para Dulce, a vida virou de cabeça para baixo após a morte do marido. Casados há 30 anos e pais de dois filhos, o impacto emocional da ausência de Nelson é palpável. “Mudou tudo. Sem ele, tudo mudou. Nada é a mesma coisa. A vida não é a mesma”, declara a viúva. A dor é uma companheira constante, e mesmo com a indenização recebida, sua realidade financeira se deteriorou. Para sustentar a casa, Dulce começou a vender doces, mas admite que nenhuma quantia pode preencher a lacuna deixada pelo amor de sua vida.

A lembrança de Nelson está imortalizada em diversos murais ao longo de Santa Teresa. Um dos mais emblemáticos se encontra na estação do Largo do Curvelo, onde seu sorriso é retratado ao comando do bondinho. Para a viúva, o mural é um símbolo não apenas da memória do esposo, mas também da dor compartilhada por todos que conheceram Nelson.

Tragédia que ecoou em Lisboa

A lembrança do acidente de Santa Teresa ganhou nova relevância após um acidente semelhante em Lisboa, onde 16 pessoas perderam a vida. A tragédia portuguesa se torna um novo capítulo de dor que ressoa na comunidade carioca, relembrando os impactos e traumas que desastres desse tipo podem causar. “Esse mês de agosto é um mês que mexe muito com a gente. Mas a gente coloca Deus na frente e segue caminhando”, reflete Dulce.

A luta por justiça e mudanças

Após o acidente de 2011, um laudo realizado pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) revelou falhas de manutenção no bondinho, especialmente no sistema de freios, que seriam a causa determinante da tragédia. Apesar das indenizações pagas às famílias, poucos resultados concretos foram vistos em termos de justiça. Quatro réus foram condenados a cumprir pena, mas o processo judicial se arrastou e, em 2023, o caso foi arquivado, deixando um sentimento de indignação entre os afetados.

Segundo a Associação de Moradores de Santa Teresa (Amast), a situação do bondinho permanece delicada. Hoje, o número de veículos disponíveis não é suficiente para atender nem os moradores nem os turistas que visitam a região. “A capacidade é muito limitada e isso gera um problema com a lotação dos bondinhos,” comenta Paulo Saad, presidente da associação. Ele observa que a operação do transporte é insuficiente para o dia a dia dos residentes, que precisam do serviço antes e depois dos horários oferecidos.

Embora os bondinhos sejam um atrativo turístico significativo, Paulo enfatiza a necessidade de organizar o serviço para que atenda tanto os visitantes quanto os que vivem na área. “O bonde é um atrativo de quem nos visita, mas precisamos garantir que o atendimento atenda também os moradores”, conclui.

Reflexões sobre memória e superação

Enquanto o bairro se adapta à realidade atual, a memória de Nelson e de todas as vítimas daquela tragédia permanecem vivas nos corações dos moradores. Dulce e sua família continuam a lutar com a saudade, buscando encontrar forças para seguir em frente enquanto preservam a memória do amor que perderam.

Em meio a desafios e recordações dolorosas, a busca por justiça e melhores condições no transporte de Santa Teresa segue, um reflexo da força e resiliência da comunidade. A história de Nelson Correa da Silva e aqueles que perderam a vida no acidente reverberam como um lembrete da necessidade de segurança e cuidado em todos os aspectos da vida urbana.

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